Do blog Cabeça de Pedra
A prima batia no pandeiro, o pai dela girava o afoxé, um amigo dedilhava o violão de doze cordas e o líder empunhava o cavaquinho com um sorriso que iluminava o quintal. Chorinho. Era assim, todo sábado, no final da tarde. Eles se reuniam ali e descia tudo lá não se sabe de onde, – porque ali Valdir Azevedo e Jacob do Bandolim não eram inimigos. Devia ser a presença de São Pixinguinha. Vai saber… O menino ficava encostado numa parede, dedo na boca, e lembrava de algumas músicas que escutava na rádio-vitrola de olho mágico. Ao vivo era outra coisa. Ele sentia o som até no umbigo estufado, principalmente o que era arrancado do pandeiro. Foi o primeiro instrumento que gostou. Queria saber tocar. Compraram um pequeno para ele. Era uma bateção só. Um dia, num casamento bem longe dali, estava lá o conjunto, e ele queria tocar junto – mas só se fosse com o seu pandeiro. Tanto fez que foram buscar. Ele acha que tocou. Ninguém reclamou. Depois disso guardou o tal e ficou o resto da vida ouvindo o som que tirou do couro naquela noite.