de Zeca Corrêa Leite
Quero falar de orquídeas, rosas, dálias, margaridas
com a mesma paixão com que se fala do amor, da faca,
da carta recebida no final da manhã,
desarvorando o coração.
Quero o instante mais solene, aquele que deixa a alma
escancarada para a vida,
sentindo perfumes de outono e primaveras,
prenunciando o futuro,
os dias de chuva, filhos que vão nascer.
Sinto a amplidão tomar conta de meu peito
e são tantas as maravilhas, meu Deus,
que mal posso tocar no ar, no silêncio, no brilho da manhã
toda feita de luzes, sombras, telhados, paredes caiadas,
teias de aranha iridescentes.
Tem sempre um pouco de adeus em minhas paixões,
mesmo que estejam ainda em seu início,
tem sempre um resto de dor em meu sorriso
como se um trem me percorresse a alma
e fosse despencar em abismos.
Viver é tecer poemas.
Preciso saber das palavras, dos tons,
das cores, das moradias dos sentimentos.
(Como os poetas fazem versos tão lindos
que tiram de mim o ar que respiro?)
Queria a paz e o perdão, a inauguração de outra hora.
Ah, esse colo ofegante, promessa de um novo dia:
eu, camponesa,
a amassar pão para assar nos fornos incendiados.