por Jaguar
Solda nasceu em 1952 em Itararé (SP), onde, segundo o Barão do mesmo nome — gaúcho que virou um tremendo gozador carioca — travou-se a maior batalha que não houve da História do Brasil. Por razões ainda obscuras, mudou-se para Curitiba aos 13 anos. Não esperou a maturidade para entrar no primeiro teatro que apareceu pela frente, onde fez de tudo: foi autor, ator, sonoplasta, músico, cenógrafo, faxineiro e bilheteiro, tendo inventado o teatro do eu sozinho, mais tarde conhecido como teatro do absurdo. Mas esqueceu de ser também espectador e foi à falência por falta de público. Daí pra frente dedicou-se a atividades de risco, como fazer humor, escrito e desenhado. Voltou em 1992 para Itararé na comemoração dos cem anos da cidade e constatou que, além da tal batalha que não houve, o acontecimento mais importante da cidade foi ele, Solda, ter nascido lá. Sempre achei que fosse codinome. Segundo o ‘Aurélio’, é “ligar, por fusão parcial obtida por maçarico”. Pensei que era a solda das múltiplas coisas que fez, faz e fará.
Diria que ele é um cartunista de letras. Nuvens delas pairam sobre as figuras que desenha, jorram da telinha da tevê, se derramam das máquinas de escrever, das gavetas, dos livros entreabertos, de todas as fendas, buracos e orifícios. Seus textos são cáusticos e desconcertantes como os de outro cartunista que também era um escritor primoroso, o Fortuna.
São ao mesmo tempo absurdos e lógicos. ‘Lendo’ os desenhos de Solda, você saberá do que estou falando. Por exemplo, ‘veja’ este hai-kai: “É só entrar no banheiro / levar um choque no chuveiro/ e sair limpo / pra se sujar o dia inteiro”. Foi amigo e parceiro — de trabalho e mesa de bar — do maior poeta do Paraná, quiçá do Brasil, Paulo Leminski, invejado por todos os alcoólicos anônimos por ser notório. Quando Leminski morreu de cirrose, Solda parou de beber quando, muito pelo contrário, deveria estar bebendo em dobro, por ele e pelo Leminski. E agora por mim, que padeço de amnésia abstêmica. Por exemplo, tinha esquecido totalmente do prefácio que fiz para o livro do Solda. Melhor confiar na autobiografia que ele postou na última quarta-feira, 6 de maio: “Luiz Antonio Solda — Itararé (SP).
Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letras, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 40 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo ‘Se não for divertido, não tem graça’”.
*Publicado no jornal O Dia
Jaguar publicou este texto ontem, justamente no Dia das Mães.
É o prefácio do meu livro. O Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe
é uma mãe pra mim. Quaxquáx!
Depois disso aí, com urgência, o fardão para o guerrilheiro das letras (e do traço) de Itararé!!!