por Célio Heitor Guimarães
O pequeno Richa, assim como o extinto Luiz Inácio, acha que o problema da previdência social são os velhos. Gente inútil, que não mais produz, mas é cheia de necessidades. Continuam se dando o luxo de comer e vestir-se, e gastam uma enormidade de dinheiro com remédios. Quer dizer, na ótica de governantes de plantão (e de muitos jovens também), são trastes incômodos. E, ainda por cima, capazes de causar um rombo dos diabos na previdência nacional.
Assim, ciente de suas elevadas responsabilidades, Lulinha e Richinha tomaram as devidas providências para tirar um naco das aposentadorias e das pensões dos associados do INSS e da ParanaPrevidência, taxando os velhinhos e as velhinhas nacionais. Pouco lhes importa se a velharada já trabalhou, já calejou as mãos, já contribuiu a vida toda para a previdência e para o progresso do Paraná e do Brasil. Mal sabem esses miseráveis burocratas de passagem pelo poder que o futuro também os levará, inevitavelmente, para a velhice.
O desprezo, a ingratidão e a maldade são tão grandes que não há autoestima que resista. Os próprios velhos – como lembrava o meu querido Rubem Alves, do alto dos seus setenta e tantos anos – são ensinados (e passam a acreditar) que homens e mulheres são como ferramentas, que só valem enquanto forem úteis: “Um serrote velho, uma enxada gasta, um alicate torto, um fósforo riscado, uma lâmpada queimada, não prestam para nada. Não merecem ser guardados. Só ocupam espaço e devem ser jogados fora”.
Por isso, quero dedicar hoje a Lulinha e a Richinha, uma mensagem de autor desconhecido colhida na internet. É quase uma oração, que deveria ser recitada, pelo menos uma vez por dia, nos palácios Iguaçu e da Alvorada:
“Amado filho:
“O dia em que este(a) velho(a) não for mais o(a) mesmo(a), tenha paciência e compreenda. Quando eu comer e derramar comida sobre minha camisa e esquecer como amarrar os meus sapatos, lembre-se das horas em que passei lhe ensinando a fazer essas mesmas coisas.
“Se quando conversar comigo, eu repetir as mesmas histórias, que você sabe de sobra como terminam, não me interrompa e me escute. Quando você era pequeno, para que dormisse, tive que lhe contar milhares de vezes a mesma estória, até que fechasse os seus olhinhos.
“Quando estivermos reunidos e eu fizer as minhas necessidades, não fique com vergonha. Compreenda que eu não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Pense quantas vezes, pacientemente, troquei suas roupas para que você estivesse sempre limpinho e cheiroso.
“Não me reprove se eu não quiser tomar banho. Lembre-se dos mil pretextos que eu inventava para convencê-lo a tomar banho.
“Quando me vir inútil e ignorante frente de novas tecnologias, dê-me o tempo que for necessário, e não me machuque com um sorriso sarcástico. Lembre-se que fui eu que lhe ensinei tantas coisas: comer, vestir-se e como enfrentar a vida tão bem como hoje o faz. Por isso, se alguma vez eu não quiser comer, saiba insistir, com carinho. Como eu fiz com você.
“Quando conversarmos, se eu me esquecer do que estávamos falando, tenha paciência e me ajude a lembrar. Talvez a única coisa importante para mim naquele momento seja ter você perto de mim, dando-me atenção.
“Quando minhas pernas falharem por estarem cansadas, e eu já não conseguir mais me equilibrar, dê-me a sua mão e o seu apoio, como eu fiz quando você começou a caminhar com as suas perninhas tão frágeis.
“E se me ouvir dizer que não quero mais viver, não se aborreça. Algum dia você entenderá que isso não tem nada a ver com o seu carinho ou com o quanto eu o amo. Compreenda que é difícil para mim ver a vida abandonando o meu corpo e que é duro admitir que não tenho mais vigor para correr ao seu lado ou tomá-lo em meus braços como antes. Não se sinta triste ou impotente por me ver assim. Não me olhe com cara de dó. Dê-me apenas o seu coração, compreenda-me e me apoie, como eu fiz quando você começou a viver. Isso me dará forças e coragem.
“Da mesma maneira que eu o acompanhei no início da sua jornada, peço-lhe que me acompanhe agora, no término da minha. Trate-me com amor e compreensão e eu lhe devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por você.
“Carinhosamente, Seu (sua) Velho(a)”.
P.S. Como fecho, eu poderia acrescentar: e se precisar dos tostões, que muita falta me farão, para cobrir os efeitos da sua incompetência, incúria e desonra, não se faça de rogado. Meu cofrinho está à sua disposição. E que Deus tenha piedade da sua alma.
Ótimo
Perfeito texto. Claro que os Lulinhas , Dilminhas e Richinhas nem se preocupam com aposentadorias, claro que a deles , nem precisam , pois o que acumulam no período que governam dá para viver muito bem, além do que quase que uma maioria absoluta dessa turma, sejam do executivo, legislativo são profissionais da política e o resto , nós mortais e os pensionistas principalmente, bem o resto… é o resto.
Quem está no poder, no comando, ganhando bem não se preocupa com quem não está nem no poder e muito menos ganhando bem. A velhice para os poderosos de hoje e os de ontem já está garantida, eles tratam de prepará-las quando exercem ou exerceram o poder. Talvez por isto aconteçam tantos escândalos de corrupção, é todo mundo querendo preparar o futuro pelas vias da corrupção e da roubalheira.
Caro CHG: Beto Richa conseguiu escrever mais páginas de sua própria biografia na história do Paraná que de de seu saudoso pai, José. Infelizmente para os Richa e para todos os paranaenses, daqui há alguns anos, esse sobrenome não será uma referência positiva nos livros de história e na Wikipédia. O governo José Richa foi um governo de conciliação e de redemocratização do Paraná. E o do filho? Quatro anos iniciais de muito discurso e pouca ação. E em quatro meses do segundo mandato um desastre jamais visto na história do estado: dívidas, cofres vazios, uma tentativa destrambelhada de confisco da poupança previdenciária, uma batalha campal de repercussão planetária e uma sucessão cotidiana de patetadas, explicações ridículas. O verbete Richa será sinônimo de desastre.
Desses dois, o novo inconsequente age como se nunca tivesse tido um pai, um verdadeiro bastardo funcional. O outro, vegetando nos vapores do áureo produto de sua própria corrupção, quer apenas que depois do porre contínuo em que está atolado venha o dilúvio.