Do blog Cabeça de Pedra
Era apaixonado por urubus. Para ele, os mais belos pássaros do céu. Silhuetas imponentes a planar como reis. Misteriosos por não se saber nem ver como morrem. A capa do disco Urubu, de Tom Jobim, virou um painel do tamanho de uma parede na sala da casa dele. Aprendeu a voar de planador só para ser guiado por eles na descoberta das correntes quentes de sustentação. Fotografava-os no ar e na terra – e a carapaça que têm ele comparava a elmos medievais. Também via o trabalho que faziam na limpeza da terra. Não gostava do termo carniça que muita gente usava para dizer do que seus amigos se alimentavam. Rebatia afirmando que os humanos também comiam animais mortos – e de todos os tipos. Foi por isso que resolveu atrair seus pássaros para casa. Fez uma caixa em cima do telhado onde jogava bichos e ficava ali, no jardim, esperando a chegada. A vizinhança começou a se incomodar. Com os urubus e o mau cheiro. Depois descobriram que ele matava animais da rua mesmo. Foi preso. Ficou feliz. Da sua cela podia ver um lixão próximo. E eles, às centenas.
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