Do blog Cabeça de Pedra
Ela tinha acabado de enfiar a esponja dentro do copo quando o celular tocou uma, duas, três vezes. Parou, lavou as mãos, enxugou no avental mesmo e atendeu. Era a cunhada, lá dos confins do Brasil, dizendo que ia se matar se o marido a largasse. Acostumada com a família aloprada espalhada pelo território nacional, ela respondeu com um rosnado, desligou o telefone e foi terminar de lavar a louça do almoço na casa da patroa. O telefone tocou novamente. Ela não atendeu. De novo, aí ela atendeu e já ia dizer para a cunhada que ela deveria era fazer uma festa em vez de ameaçar tomar veneno de rato. Antes disso, contudo, a outra contou que apareceu uma “irmã” da igreja, que aquilo tinha sido coisa de Deus, que estava mais calma e que já tinha esquecido a ideia de acabar com a própria vida. A milhares de quilômetros, com a pia de aço limpa e brilhando, a que ouviu tudo tomou um gole de café forte e pensou: “Mas se eu contar essa história para meu irmão, ela, que é falha das ideias, não vai ter trabalho de se matar – é ele quem vai fazer o serviço”.