por Ruy Castro
Você conhece muita coisa dele, mas talvez não ligue o nome à figura: “Não posso mais, ai que saudade do Brasil/ Ai que vontade que eu tenho de voltar…” (“Adeus, América”); “Oi de conversa em conversa/ Você vai arranjando um meio de brigar…” (“De Conversa em Conversa”); “Madame diz que a raça não melhora/ Que a vida piora por causa do samba…” (“Pra Que Discutir com Madame”); “Eu quero um samba feito só pra mim/ Me acabar, me virar, me espalhar…” (“Eu Quero um Samba”).
E que tal “Cara de palhaço/ Pinta de palhaço/ Roupa de palhaço/ Foi este o meu amargo fim…” (“Cara de Palhaço”)? Ou “Você tem que dar, tem que dar/ O que prometeu, meu bem/ Mande o meu anel que de volta/ Eu lhe mando o seu também…” (“Tim-Tim por Tim-Tim”). Ou “Devagar com a louça/ Que eu conheço a moça, vai/ Devagar…” (“Devagar com a Louça”). Ou “Tentou contra a existência/ Num humilde barracão/ Joana de Tal, por causa de um tal João…” (“Notícia de Jornal”). Grandes sambas de balanço e de bossa.
Na área do samba-canção, era covardia: “Garçom, apague esta luz/ Que eu quero ficar sozinha…” (“Bar da Noite”), “Momentos são/ Iguais àqueles em que eu te amei…” (“Nossos Momentos”), “Foi assim/ A lâmpada apagou/ A vista escureceu/ Um beijo então se deu…” (“Meu Nome é Ninguém”). E as versões de canções americanas, francesas, mexicanas, que se incorporaram à nossa música?
Tudo isso é o carioca Haroldo Barbosa, que teria feito 100 anos no dia 21 último. Apenas pelo letrista que ele foi, o Brasil lhe deve uma biografia, songbooks, discos e musicais de teatro. Se acrescentarmos seu fabuloso trabalho em rádio, TV, boate e jornal, como produtor de programas, redator de humor, roteirista de shows e até cronista de turfe, a dívida será impagável.
Haroldo, o Brasil vai morrer te devendo. Quem mandou ser gênio?
*Publicado na Folha de S.Paulo