Do blog Cabeça de Pedra
Sei ler e escrever porcamente. Isso se deve ao amor. Tenho um diploma pendurado na parede da minha cobertura. Esclareço que faturei muito por outros motivos. Se dependesse da minha leitura e da minha escrita, jamais teria saído daquele mocó na vila. Meu problema sempre foram as professoras. Não que elas não soubessem ensinar. A maioria sempre foi dedicada, apesar do salário de fome, mas a questão é que eu me apaixonava por todas, parecia vício – e lá eu queria saber de conjugação de verbos imperfeitos? Elas nunca me deram bola, mesmo porque eu ficava no fundão da sala e parecia um rato molhado, esmirrado e acuado. Concluí todas as etapas porque na escola pública é proibido repetir. Depois fiz uma faculdade de ensino à distância e ganhei o canudo. Coloquei alguém para olhar aquela tranqueira por mim – e fim de papo. Ganhei muito dinheiro de forma ilícita, mas sem matar ninguém, adianto. Também não tirei dos cofres públicos, porque isso eu acho uma sacanagem muito grande. Resolvi contar isso para que um parceiro meu treinasse o texto, como ele explicou. Quer ser escritor, o fulano. Eu fui contando o que queria, ele anotou e depois escreveu. Ele contar minha vida num livro. Eu disse que ela não vale nada. Ele disse que sou um vencedor. Aí já acho que é coisa de puxa-saco – coisa que não gosto. Mas eu tenho a grana e ele sabe ler e escrever.