Do Jornal da Manhã
Mayr Facci, lenda do Basquete de PG, morre aos 87 anos
Considerado uma das lendas do basquete brasileiro, o ex-jogador Mayr Facci, de 87 anos, morreu na manhã dessa quarta-feira, em Ponta Grossa, em decorrência de uma deficiência circulatória, na madrugada desta quarta-feira (dia 11), em Ponta Grossa, no interior do Paraná. O velório acontece na Capela São José e o enterro será realizado nesta quinta-feira (12) em um cemitério de Carambeí, que ainda será definido pela família.
Vice-campeão Mundial (Brasil/1954), o ex-ala da Seleção Brasileira Adulta também defendeu a camisa-verde amarela na conquista do sexto lugar nos Jogos Olímpicos de Helsinque (Finlândia/1952) e Melbourn (Austrália/1956), além do bronze nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México (México/1955) e da prata no Campeonato Sul-Americano (Uruguai/1953). Ao longo de sua carreira, a atleta também defendeu as equipes de Catanduva (SP), Cruzeiro Cestobol (SP), Eldorado Paranaense (PR), Guarani (PR), Corinthians (RS).
Em nota publicada nesta manhã, em seu site oficial, Confederação Brasileira de Baskteball (CBB), lamenta a morte do ex-jogador, emitindo condolências à família. “Nesse momento de dor e de pesar, a CBB lamenta e se solidariza aos familiares de Mayr”, diz a nota.
Numa entrevista especial ao Jornal da Manhã, em julho de 2011, à época com 81 anos, Mayr Facci ressaltou que ‘seguia com a alegria e a juventude dos seus tempos de seleção brasileira, quando com 25 anos integrou o grupo que obteve a 5º colocação nas Olimpíadas de Helsinque (na Finlândia)’. Mais tarde, no ano de 1956 ele levou a seleção ao 6º lugar nos Jogos Olímpicos de Melbourn (Austrália). Chamado de ‘Gato’ pelos companheiros – devido a sua agilidade e técnica – Facci ainda tem em seu currículo o vice-campeonato mundial, em 1954 (no Brasil), a medalha de bronze do Pan-Americano do México (1955) e o vice sul-americano em 1953 (no Uruguai). Foram 150 pontos em 30 jogos pela seleção brasileira em competições oficiais. Pelas equipes que passou foram diversos títulos, sendo 10 vezes do paranaense, três no paulista, três no gaúcho, o fazendo um dos melhores jogadores do Paraná e do Brasil, uma verdadeira lenda viva. O sempre atleta Mayr Facci não é ponta-grossense. Nasceu em Catanduvas (SP) e veio em 1950 para a Ponta Grossa, cidade que escolheu para viver.
Acompanhe principais trechos da entrevista concedida ao Jornal da Manhã, em 2011
JORNAL DA MANHÃ – Você teve passagens por diversos clubes. O que te chamou a atenção na cidade para ficar?
MAYR FACCI – Foi a esposa, um grande motivo. Cheguei e depois a conheci e acabei ficando. Além disso, o basquete ponta-grossense começou a crescer e passou a ser de âmbito nacional e o pessoal daqui me segurou.
Primeiro joguei no Catanduvas Esporte Clube (SP), depois Cestobol de Catanduva. Vim para Ponta Grossa e joguei no Guarani, mas tive em São José dos Campos, Sorocaba, Jabotical e diversas cidades do interor de São Paulo. Vim para Ponta Grossa e depois fui para o Rio Grande em 1960. Fiquei no Corinthians de Santa Maria e fui tricampeão gaúcho de basquete, quando fui como técnico e jogador. Depois voltei para Ponta Grossa, mas aí já estiva no fim de carreira.
JM – Qual é a sua relação com a cidade de Ponta Grossa?
MAYR – Fui muito bem recebido. Sou até hoje muito bem visto. A gente procura ser uma pessoa mais sorridente com todo mundo e sem máscara, o que influi bastante também. A gente vai abraçando e dando as mãos e de mãos dadas a gente vai longe.
JM – E como você, um ídolo do basquete, trabalha com os mais jovens que o vem como um espelho?
MAYR – Isso é muito importante porque envaidece e a criançada olha a gente como um ídolo, uma pessoa que teve uma fase no esporte, que teve nome. Eles ficam olhando, conversam e fazem perguntas. E a gente vai dialogando com eles, com sorriso e entusiasmo, sempre com muita alegria, amor e carinho.
JM – E essa homenagem com a realização do torneio de veteranos?
MAYR – Esse é o 10º Torneio Mayr Facci e isso me envaidece. Me deixa orgulhoso porque vem uma plêiade de jovens coroas que eram do meu tempo e isso aí sai até lágrimas quando a gente começa a relembrar. Isso dá um estímulo grande e a gente serve de espelho, juntamente com os outros. A gente fica alegre e contente porque a juventude procura o bom e nós procuramos dar da gente o melhor possível.
JM – Como foi essa experiência de disputar uma Olimpíada? Um sonho realizado?
MAYR – Eu acho que a pessoa chegando em uma Olimpíada é o ápice do atleta. Para chegar lá, os degraus são muito grandes. A pessoa precisa ser persistente, consciente e educada esportivamente e fora do esporte tendo saúde, sendo obediente com os companheiros e técnicos os passos são largos para esses degraus, mas é preciso ter paciência.
Eu comecei basquete com 18 anos. Antes eu praticava atletismo e fui para seleção brasileira com 25 anos. Foi a primeira vez que fui vestir a camiseta da seleção brasileira. Até nesta época foram convocados 48 jogadores quando fui chamado pela primeira vez. Tinha os cobras do passado. Eu achei que não tinha vez, mas eu falei: se eles forem melhor que provem dentro de campo. Fui ficando e quando cheguei entre os 15 tinha de ter três para fora e agora achei que seria a minha vez. Aí fiquei entre os 12 e pensei: agora a briga é com todos e quero ser titular. E acabei sendo titular, aí que foi o orgulho que tive na carreira.
JM – Qual foi a sua virtude para essa conquista?
MAYR – Foi a dedicação, a coordenação motora, a visão. Isso tudo influi. A rapidez, eu pulava muito e enterrava a bola fácil naquela época, embora eu seja baixo, mas tinha uma impulsão muito grande. Isso tudo foi alguns dos motivos que me segurou na seleção porque muitos não tinham como me marcar.
JM – E então foram oito anos com a seleção?
MAYR – Disputei duas Olimpíadas, a da Finlândia em Helsinque (em 1952 – fez oito pontos em sete jogos) e a da Austrália em Melbourn (em 1956 – fez 10 pontos em cinco jogos)
JM – Você acredita que cumpriu com sua missão no basquete?
MAYR – Eu gostaria de ser jovem novamente e estar na seleção para acabar de cumprir. Porque eu gostaria de ser eterno jogador de seleção brasileira, embora eu seja convocado para os veteranos. Este ano o encontro vai ser no [Rio de Janeiro] e vou fazer o possível para estar presente porque isso lembra e a gente fica esperando um próximo orgulho. Quando termina um já queremos o outro. E isso nos dá uma existência maior para gente.
JM – Segue assim sua trajetória dentro e fora das quadras?
MAYR – Correndo atrás da bola, como eu falo, porque jogar eu jogava lá em 1800 mesmo. Agora a gente corre atrás da bola com os companheiros. E depois desses jogos vêm os comentários das partidas. Um fica falando que eu pulei e subi, mas subiu cinco centímetros do chão e diz que subiu barbaridade. E é isso aí que dá a alegria dos encontros e por isso que a gente tem de dar continuidade com o esporte. É o que o esporte proporciona, desde a infância até a minha idade ou até mais. Por isso digo para a juventude que procure praticar esporte, que traz educação, amor, carinho e foge das drogas. Assim você terá a continuidade na vida particular e esportiva.
ZÉ BETO. Anote aí nos seus arquivos. O Mair Facci e o Almir de Almeida jogaram anos no Guarani de Ponta Grossa. Eles jogaram juntos na seleção brasileira e nas Olimpíadas. Foram os maiores e melhores jogadores de basquete do Paraná. É importante pegar mais dados com o Hélcio Borell.
Grande Mayr,
Glória do basquete brasileiro. Que deus o tenha.
Sou de Curitiba, mas estou fora do país e quando soube do falecimento foi um choque, a perda de uma pessoa muito especial para seus entes e amigos.
Meus sentimentos a esposa, filhos e familiares.
Roberto L. Cavagnari