8:20Curitiba em dez motivos

por Yuri Vasconcelos Silva

Em um dos melhores filmes de Woody Allen, “Manhattan” (1979), há uma cena que permanece na mente daqueles que apreciam a filmografia do cineasta. Os dez melhores motivos para se manter vivo num mundo sem sentido, de acordo com o protagonista. Ele registra, então, num gravador, uma lista com os dez itens eleitos pela sua memória naquele momento de solidão. A idéia das listas tem algum sentido. De um modo ilusório, parece dar um sentido de ordem e controle sobre tudo aquilo que gostamos ou desprezamos, seja como indivíduo ou sociedade. As listagens ou rankings surgem em intervalos constantes, divulgadas por pesquisadores com vários doutorados, institutos ‘respeitados’ ou amadores apaixonados. Entramos agora no fértil período da concepção dos inventários TOP 10, que geralmente pipocam nas mídias no início do ano. Jornais, revistas e programas de TV estão preparando pautas para apresentar os melhores e piores do ano que passou – ou do que está por vir.

Aqui, a tentação é inescapável. O objeto de análise é a cidade. O viés é otimista. Dez motivos para gostar de viver em Curitiba:

DEZ – Para quem quer ir ao campo, basta percorrer vinte quilômetros em qualquer direção;

NOVE – Há sempre um outro mundo, mais sossegado, ao se dobrar a esquina e sair da avenida infernal;

OITO – Os vizinhos não existem, mesmo quando estamos no mesmo elevador;

SETE – Passar pela rua Fernando Amaro, no Alto da XV, tranquila, arborizada como um túnel verde e repleta de velhos ipês amarelos;

SEIS – Tomar caldo de cana na aveninda Nossa Senhora da Luz, com o pôr do sol atrás do skyline da cidade vista da Praça das Nações. Do outro lado, o tênue azul nos contornos da Serra do Mar;

CINCO – caminhar pelo calçadão da XV para almoçar um PF ou sanduíche no Bar Triângulo;

QUATRO – no foyer do Teatro Guaíra, encostar o nariz no painel envidraçado com imensas chapas quadradas de vidro e observar a Universidade Federal do Paraná do outro lado da praça, antes de apreciar qualquer espetáculo neste formidável teatro.

TRÊS – Os armazéns e botecos do tempo do onça que encontramos onde menos se espera;

DOIS – Usar o Ligeirão Azul em horário vazio e deixar o carro na garagem. Sem trânsito ou procura de vaga enervantes, sem o medo das ‘periquitas do estar’, sem pagar estacionamento exorbitante – e ainda chegar mais cedo no destino;

UM – Aqui, ter inteligência mediana é ascender ao trono dos reis;

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

 

3 ideias sobre “Curitiba em dez motivos

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  2. Professor Xavier

    Cara fechou a ano com chaves de ouro. E arrematou com a número um, esta resume tudo. Ótimo ano para você cara. Paz e bem para todos.

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