de Walt Whitman
Deixem que eu trace o meu próprio caminho:
que outros promulguem leis!
das leis não tomarei conhecimento;
que outros exaltem homens eminentes
e promovam a paz,
eu promovo conflito e agitação;
eu não exalto nenhum homem eminente,
e ainda reprovo bem na cara dele,
o que foi dado por mais valioso.
(Quem é você? E de que se sente culpado
secretamente e por toda a vida?
Vai toda a vida virar para o lado?
Vai toda a vida rastejar e resmungar?
Quem é você que por vício dá com a língua nos dentes,
anos, páginas, línguas, reminiscências,
inconsciente já de que não sabe
dizer adequadamente uma única palavra?)
Que outros acabem espécimes, eu
jamais acabo espécime algum:
inicio-os por leis inexauríveis
seguidamente novos e modernos
como a Natureza faz.
Eu nada faço por obrigação:
o que outros fazem por obrigação
eu faço por um impulso de vida.
(Como haveria eu de fazer por obrigação
os gestos do coração?)
Que outros formulem questões,
eu não formulo nenhuma – eu formulo
questões irrespondiveis:
quem serão estes a quem vejo e toco?
Que há com eles?
Que há com esses semelhantes meus
que tão de perto me atraem
por suaves direções e faltas de direção?
Concito o mundo a desconfiar
do que contam meus amigos,
e a confiar no que dizem meus inimigos,
como também eu faço;
convido todos a não aceitarem
aqueles que pretendem explicar-me,
quando nem eu mesmo sei me explicar;
eu conto com vocês
a fim de que não haja teoria ou escola
fundada sobre mim;
eu conto com vocês para que todos
sejam deixados livres, como livres
eu tenho deixado a todos.
Comigo, a ver!
Ah estou vendo que a vida não é curta,
mas incomensuravelmente longa:
daqui em diante eu piso o mundo casto,
temperado, madrugador, crescente firme,
cada hora sêmen de séculos
e mais séculos.
Eu tenho de acompanhar
essas contínuas lições da terra, da água e do ar:
sinto que não tenho tempo a perder.
Walt, a inocência, a grandeza disfarçada em relaxo, a poesia mais honesta que já foi escrita, uma luz humana que iluminou o século 19 e continuamos recebendo aquelas luzes