15:47Curtas, porém universais

por Yuri Vasconcelos Silva

O buraco é mais escondido

Há alguns dia espalhou-se a notícia de um maciço buraco negro localizado no centro de uma tal galáxia M60-UCD1, a 50 milhões anos-luz. Convém explicar que um buraco negro é uma ‘singularidade’, fruto da implosão de uma estrela muito grande e pesada dentro de si mesma, encolhendo até um espaço tão pequenino que não se pode nem medir. Uma massa imensa ocupando um espaço pequeninho assim gera uma densidade monstruosa. Tão monstra que acaba por ‘furar’ o tecido do espaço-tempo. A gravidade resultante é tão forte que tudo à sua volta, seja matéria ou energia, é irreversivelmente sugado para dentro. Após ultrapassar o limite conhecido como “Horizonte de Eventos”, nem mesmo a luz, ou qualquer outra forma de radiação, escapa deste “horizonte”. O porém é que, junto com a notícia deste achado, veiculou-se erroneamente uma imagem do que seria o tal buraco fotografado pelo Hubble. Infelizmente, estas singularidades são indetectáveis, por não emitirem qualquer tipo de energia ou radiação. Os astrônomos podem apenas medir os efeitos de um buraco negro sobre a vizinhança, estimando assim sua presença e suas dimensões. A imagem divulgada era uma ilustração de photoshop, feito por algum estagiário da Nasa. Portanto, quando alguém mostrar um buraco negro, não acredite. Eles são muito mais tímidos.

Estacionamentos que xingam

Todo curitibano que vai ao shopping, mesmo que de vez em quando,  já deve ter elencado mentalmente os piores estacionamentos para entrar. Alguns são caóticos em seus percursos e sinalizações e parecem terem sido projetados para fazer o motorista sofrer. Outros cobram tão caro, que o bilhete deveria vir dentro de uma sacolinha descolada, pra você exibir para os outros que estacionou ali. Chique. Mas todos têm em comum a habilidade de fazer o motorista esquecer onde deixou seu carro. Tentativas como pintar cada andar com uma cor, ou dar nomes esquisitos para cada nível, inspirados em espécies de flores ou pedras preciosas, são tão inúteis como os criativos “G1, G2…”. O grande filósofo contemporâneo, Jerry Seinfeld, propôs que cada andar estampasse uma certeira ofensa aos usuários. Com certeza o sujeito se lembraria onde deixou o carro se tivesse parado no nível “sua mãe é uma v@∂#a”.  Quanto mais inferior o nível onde estacionou, mais baixo calão.

O dono do buraco

O físico pop star Stephen Hawking foi quem primeiro teorizou sobre a possibilidade de detecção dos buracos negros. Hoje sabemos, por exemplo, que no centro de cada galáxia existe um buraco negro denso e voraz graças ao desenvolvimento de suas idéias. No mês passado, no entanto, Hawking voltou atrás ao afirmar que buracos negros não existem. Surpresa e confusão de todos. Para quem o conhece, nem tanto. Ele tem uma personalidade tão peculiar quanto seu cérebro. Já fez apostas com outros físicos sobre a chance de acerto de suas teorias, participações especiais em seriados como Star Trek ou The Big Band Theory e e até gravou com o Pink Floyd, emprestando sua voz sintetizada ao album The Division Bell.

Para saber mais, recomenda-se assistir ao bom filme sobre a doença degenerativa que o deixou à beira da morte, a origem da revolucionária teoria e sua primeira esposa Jane Wilde, “A História de Stephen Hawking” (BBC, dir. Philip Martin, 2oo4) em que Benedict Cumberbatch interpreta o físico. Poderá ver ainda este ano no cinema o esperado e possivelmente indicado ao Oscar, “The Theory of Everything”* (A Teoria de Tudo – dir. James Marsh, 2014) que contará a história de amor entre Hawking e Jane Wilde. Ao contrário do que ocorre normalmente, temos a oportunidade rara de ver um biografado no cinema sem que ele já tenha partido.

http://trailers.apple.com/trailers/focus_features/thetheoryofeverything/

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

 

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