por Roberto Bertholdo

Há 25 anos faço política no Brasil e em outros países – e nesse largo período de tempo conheci pessoalmente todos os ex-presidentes do Brasil.

Também conheci presidentes do Paraguai, do Uruguai, da Argentina, do Peru, Equador e Venezuela. Trabalhei em diversas campanhas nesses lugares.

Vivi e vi situações que nunca imaginaria participar. Algumas muito boas, outras, na sua maioria, péssimas.

Conheci pessoalmente Eduardo Campos desde a época em que ele foi Ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. Me dava bem com ele.

Grande figura humana, excelente político, inteligente e muito articulado. Pessoa do bem, incapaz de um ato de maldade.

Falo portanto por conhecimento e experiência – e não por mera impressão.

O que estão fazendo com a tragédia que abateu a família Campos é algo que nunca havia visto antes.

Ao longo de todos esses anos a legislação eleitoral tornou-se muito mais severa e proibiu brindes, assistencialismo material, outdoors e os famosos “showmícios”- comícios políticos com shows de artistas.

O que se viu no enterro do já saudoso Eduardo nada mais foi que a invenção do “Enterromício”. Inventaram o enterro com comício.

Foi visível que as palavras do arcebispo passaram antecipadamente pelas mãos dos marqueteiros e que a postura adotada por Marina Silva foi meticulosamente estudada e cumprida na sua integridade.

Pior é que em situações como essas passam desapercebidas pela maioria da população que, obviamente, se comove – e muito, com o comportamento daqueles que se utilizam de uma oportunidade trágica para aparecer ainda mais e tentar ganhar alguns pontos de aprovação popular.

Casos como esses mostram que a busca pelo poder cega e endurece a alma humana. Por isso o sistema entra em pane aos poucos, mas com inevitável frequência. Por isso, a cada dia que passa sinto mais vontade de estar distante disso tudo.

Simplesmente deplorável.