por Carlos Leonam
E Pompéia? E Rosita Sofia? Abro aqui meu baú de lembranças de um futebol risonho e franco
O cronista Joaquim Ferreira dos Santos, garimpeiro de carioquices e coisas tais, escreveu, há dias, uma pensata bastante oportuna, nestes tempos de Copa do Mundo, estádios mal-acabados, protestos e figurinhas de jogadores de futebol.
Escalando certamente de um antigo álbum, possivelmente o das balas Campeão, Joaquim lembrou-se de Pompeia – goleiro do América do Rio, que nos anos 1960 era curtido por todas as torcidas.
Diz Joaquim: “Ex-palhaço de circo, ele enfeitava suas defesas com um acúmulo de exageros e novas sensações. (…) Ele está aqui, porque no meu álbum de figurinhas de futebol, a página que eu gosto mesmo é a dos que, nem todos craques, nem todos capitães, fizeram do jogo uma festa. (…) Eu me lembro de Pompeia porque o Brasil vai para a Copa do Mundo sem um goleiro que inspire confiança ou faça sentido com a história do jogo divertido que costumava se praticar aqui”.
Essa recordação abriu também meu baú de lembranças daqueles tempos em que o futebol brasileiro era risonho e franco. A gente podia torcer com paixão, mas éramos torcedores saudáveis e não os quadrilheiros de hoje em dia. Quando garoto, meu pai me levava a jogos do Flamengo por um único motivo: ver Leônidas da Silva jogar. Ele considerava o Diamante Negro o maior jogador de todos os tempos – até que Pelé chegou. Tricolores os dois, ele me ensinou a gostar do futebol bem jogado, o futebol arte de que hoje falam tanto, mas poucos viram. Se o veem, isso se deve às imagens perpetuadas pelo cinejornal Canal 100.
Assistindo, pouco antes da Copa de 90, ao antológico Brasil Bom de Bola, que culmina com os jogos da Copa de 70, minha filha Manoela, ao final da sessão, foi definitiva: “Esses caras que o Lazaroni convocou não seriam nem reservas dos jogadores que Zagalo levou ao México”.
Aí é que está o busílis da questão que atravanca o futebol brasileiro atual. A garotada, e marmanjos também, passou a curtir as partidas que são jogadas na Europa, sabem o nome dos craques multinacionais, usam na rua as camisas do Madrid, do Barça, do Milan, do United…
Ninguém sabe, e cultua, os jogadores de tempos não tão longínquos assim. E isso também vale para os repórteres esportivos da nova geração. Será que eles sabiam quem foi Pompeia? E Oberdan? Garotos, a gente sabia escalar, de cor, os times de clubes que não o nosso: Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Evaristo, Dida e Zagalo (o Fla); Barbosa, Augusto e Rafanelli; Eli, Danilo e Jorge; Friaça, Maneca, Ademir, Jair e Chico (o Vasco); Oswaldo Balisa, Gerson e Santos (em 48 o Nilton era conhecido pelo sobrenome); Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otavio e Braguinha; Oberdan, Caieira e Turcão; Zezé Procópio, Tulio e Fiume; Lula, Artuzinho, Osvaldinho, Lima e Canhotinho (o Palmeiras)… Hoje, os torcedores não conseguem escalar o seu time, já que os professores mudam-no sempre que apanham. Já o time do Barça ou do Madrid ou do Chelsea…
Bem, a gente sabia escalar aqueles nomes, não só por vê-los jogar (e não pela tevê), como pelas balas com figurinhas (as figurinhas vinham em balas e eram vendidas em botecos). Times estrangeiros, neris de pitibiriba. O primeiro time que se soube escalar, também de cor, foi o legendário escrete húngaro, principalmente sua linha – Budai, Hidegkuti, Puskás, Kocsis e Czibor.
Enfim, essa nostalgia, hora da saudade ou cultura de botequim, fica por aqui. Mas vale uma perguntinha. Você já ouviu falar no Rosita Sofia? Se não ouviu, veja no Google, claro!
*Publicado na revista CartaCapital
> > > Pompéia : ” Constellation ” – sem Google !