por Sérgio Brandão
Boas festas! Feliz Natal! Feliz ano novo! São de longe os desejos mais ouvidos por estes dias, mas a pergunta “Foi feliz o seu Natal?” ainda não tinha ouvido. Nunca ouvi ninguém perguntar pra ninguém assim, se seu Natal foi feliz? Achei simpático, sincero, partindo de quem partiu – e da forma como perguntou. Era uma senhora perguntando a uma enfermeira, na saída de uma consulta médica, hoje pela manhã.
Pelo que percebi, a pergunta também surpreendeu a própria enfermeira. Foi de bate-pronto, fixando o olhar até que a resposta fosse dada. A senhora ficou firme à espera da resposta. Sem graça, balançando o ombro, com um meio sorriso, a enfermeira disse sim, mas nem um pouco convincente. Ainda desajeitada, sem saber direito o que fazer, baixou a cabeça. Retomou a conversa e encarou a senhora que diddr, ainda firme: “Só quero saber se seu Natal foi feliz, minha filha. Hoje deveria sair daqui lhe desejando feliz Ano Novo e ir embora, mas antes preciso saber se seu Natal foi feliz”.
Francamente nunca vi a preocupação, só o desejo, às vezes sincero, às vezes mecânico, mas a pergunta com tamanha insistência, me confesso surpreso igual a enfermeira. Em tom mais baixo, a senhora murmurou algo que não consigui ouvir. A enfermeira sorriu.
Demonstrando mais segurança, levantando a cabeça e tentando também olhar no olho da senhora, permitiu o início de um diálogo.Imaginei que falaram de sonhos, amenidades para 2013. A esta altura com jeito de velhas amigas. A senhora segurou a mão da enfermeira e, segundos depois, com as duas mãos como se agasalhasse a mão da outra, se aproximou e murmurou mais uma frase que também não ouvi. Aquela cumplicidade me encheu de alegria. Aquela mulher era absolutamente sincera. Não só na pergunta, mas em tudo que fazia e dizia, mesmo sem que eu pudesse entender tudo que falava.
A história ganha mais peso porque aconteceu numa sala de emergência de um hospital. Solidariedade num ambiente como este é mesmo o sentimento adequado e sempre muito bem vindo, mas neste caso era de uma paciente a uma profissional da área da saúde. As posições me pareceram invertidas.
Olhei para os lados e em outra maca um soldado que recebia soro e também observava a cena. Mais na frente, uma outra senhora sentada numa confortável poltrona também se encanta com o que vê.
Antes de ir, a senhora ainda disse mais alguma coisa para a enfermeira. Largou a sua mão e começou a sair. Precisava passar bem perto de mim para chegar até a porta. Se aproximou, olhou para mim e para minha mãe que, deitada numa maca, tirava sangue para exames. Vestindo um casaquinho rosa, num tom bem suave, como suave era aquela figura, me olhou e sorriu com o mesmo sorriso que sorriu para a enfermeira. Retribuo já completamente encantado por ela. Estendeu a mão esquerda e me disse:“Bom ano, moço!” Não consegui dizer nada. Continuei sorrindo e observando a saída da senhora. Gostaria de encontrá-la no final de 2013 e, da mesma forma, assim como a enfermeira, ter a oportunidade de responder se tive mesmo um bom ano. Saio dali acreditando nas pessoas. Se anjos como este cruzarem meu caminho durante o ano, com certeza terei sim, um belo ano.
bonm noite muito zano de visda