por Ivan Schmidt
Levantamento realizado pela Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo, divulgado na edição desta segunda-feira (24), revelou que 69,57% da população aprovam o desempenho do governador Beto Richa à frente da máquina pública estadual. Um dado que merece avaliação é que em relação à pesquisa feita há um ano, o índice de aprovação caiu quatro pontos, trazendo consigo uma carga não pequena de interpretações e análises de natureza política, que, de saída, podem direcionar os holofotes para a melhor visualização do cenário governamental. Ou não acontecer rigorosamente coisa alguma.
Muito se falou em reforma do secretariado (que deveria ocorrer em janeiro), sinal de que Beto estaria de fato preocupado com o andamento de determinados setores do governo, embora em nenhum momento houvesse transpirado quaisquer dicas sobre as engrenagens menos lubrificadas da engenhoca. Algo há, porque pelo menos um dos secretários estaduais inunda as redações com releases diários.
Na verdade, a perspicácia popular já atentou para a precariedade do comportamento governamental, porquanto a Paraná Pesquisas mensurou em 67% dos entrevistados, ou seja, quase a maioria, o universo dos que não conseguem apontar sequer um projeto de iniciativa do atual governo.
Aí está, sem a menor sombra de dúvida, uma questão a ser respondida (espero) pelos gênios da comunicação e da arte mediúnica da opinião pública. Cerca de 70% das pessoas entrevistadas afirmaram que o governo é bom, mas com um corte inferior a cinco pontos percentuais admitiram constrangedor desconhecimento sobre pelo menos uma obra importante executada pelo governo do estado. Talvez o doutor Pangloss, ente mitológico que tinha o dom de enxergar as coisas por meio de lentes róseas, pudesse explicar esta aparente falha mental de cidadãos que contemplam o nada e acham que ele é maravilhoso.
A nota realista ao governo de Beto Richa, a meu ver, foi dada pelos paranaenses nas últimas eleições municipais. Das prefeituras importantes disputadas por candidatos apoiados pelo governador e seu partido (PSDB), a começar por Curitiba, pouquíssimos dividendos políticos foram acrescidos à sua contabilidade pessoal. A administração das principais cidades do estado, a partir de 1º de janeiro, estará nas mãos de políticos não necessariamente cordatos ao fascínio peculiar exercido pelo chefe do Executivo estadual, muito embora todos saibam que o melhor caminho é manter boas relações com o poder.
Esta proximidade com o poder se faz e, neste sentido os prefeitos merecem parabéns, no interesse superior dos munícipes que trabalham muito, recolhem uma quantia fabulosa em impostos e tributos e, só por isto, merecem a retribuição do governo em termos da excelência dos serviços públicos de saúde, educação e segurança pública – para citar pela undécima vez a cantilena de sempre – além da implantação de novos projetos que melhorem, efetivamente, a qualidade de vida daqueles que arcam com a maior das virtudes, que é pagar a conta.
De volta à pesquisa, continua parecendo inexplicável que um governo que não consegue se fazer lembrar pela população, seja por ela avaliado em percentual tão elevado. Parece a lenda originária de determinado país oriental cujo potentado, no dia do aniversário, desfilava com os trajes mais luxuosos exigindo do povo oferendas em ouro que não podiam ser inferiores a seu peso corporal. Em retribuição a tanta benevolência o potentado ordenava aos áulicos que jogassem pétalas de rosa sobre a multidão aglomerada nas ruas e praças.
Estaria a população sendo incoerente? Também não há parâmetros seguros para concluir com lógica, pois desde priscas eras tanto em Curitiba quanto no Paraná, o prefeito e o governador têm tido avaliações acima da média, algumas hiperbólicas. Também o prefeito Luciano Ducci, que a despeito de ter sido rejeitado na justa pretensão ao segundo mandato, deixará o Palácio 29 de Março com 53% de aprovação popular, o que não é pouco. Ora, é ou não incoerência dos eleitores? O mesmo instituto que mediu a popularidade de Beto Richa auscultou os curitibanos para avaliar o mandato de Luciano e, mais da metade dos eleitores se revelou satisfeita com sua administração.
O que requer uma explicação plausível dos cientistas políticos, que existem na terra em profusão, é a queda espetacular de 14 pontos percentuais no desempenho de Ducci em relação à pesquisa feita no ano passado, caracterizando a involução patenteada já na eleição de outubro. O que não se conseguiu explanar até agora foram os fatores que cavaram o abismo entre o Ducci de 2011 e o atual, mormente ao se considerar as 7,5 mil obras que realizou. Decerto não foi pelo excesso de obras que o prefeito veio a ser castigado pela população.
Para amenizar, há os que sustentam a tese de que Ducci não se dedicou com a mesma ênfase obreirista ao cultivo da política, arte que exige dos praticantes não só o conhecimento, mas a disposição para a prática diária do contorcionismo mais absurdo, da verborragia melíflua e edulcorada por promessas vãs, enfim, do compadrismo que ainda é o emblema sacramentado da política nacional. Em privado se diz que muitas foram as juras de lealdade absoluta, no entanto, seguidas pelas traições mais nefandas. E até que alguns “eleitores” tidos como imbatíveis acabaram desempenhando papel mais melancólico que Brancaleone.
Sobre avaliações, afinal, desde o governo José Richa, quando pesquisas de opinião pública passaram a integrar o imaginário da população e a servir de escora para alguns governantes que as veneram com a mesma volúpia dos supersticiosos em relação ao horóscopo (sem reconhecer, no entanto), poucos foram os prefeitos de Curitiba e governadores a sentir o repúdio da população. Mesmo aqueles que se desgastaram por administrações medíocres, não é preciso citá-los nominalmente, sempre foram lembrados com alguma simpatia pelo povão.
No caso pessoal de Beto Richa, cujo governo não é um primor de realizações (os 67% que não foram capazes de apontar sequer uma obra de vulto estão cobertos de razão), resta a metade do mandato para recuperar, em parte, o precioso tempo que se foi. Mesmo a marca mais lembrada pela sociedade – as unidades pacificadoras – não será suficiente para dar vigor à marcha que culminará na eleição de 2014. O governo carece de arsenal muito mais representativo de obras e/ou soluções que tardam a acontecer como, por exemplo, no arrastado caso das tarifas de pedágio que desde a implantação continuam sendo um mistério inexpugnável.
Segundo os analistas falta ao governo de Beto uma identidade própria, um signo facilmente apropriado e lembrado espontaneamente pelos eleitores. Ney Braga foi o homem da integração regional; Pimentel, o homem da agropecuária; Canet, o construtor de estradas; Álvaro, um continuador da expansão do projeto rodoviarista; Requião, o pregoeiro da Carta de Puebla (sic); Lerner, o conquistador das montadoras. Beto Richa o que fará para entrar na história?
Ora, a pergunta sequer merece resposta diante de nova pesquisa da Gazeta do Povo sobre a eleição de 2014. O governador é franco favorito em todos os cenários apresentados pelos entrevistadores do instituto Paraná Pesquisas. Gleisi, Requião, Osmar Dias e Ratinho Jr e Paulo Bernardo seriam suplantados, se a eleição fosse hoje, apesar das margens bastante escassas.
Então está combinado! O governador não consegue eleger os prefeitos das principais cidades e, por cima, perde a joia da coroa que é Curitiba, depois de 30 anos de hegemonia do grupo no qual oportunamente se inseriu. A maioria dos cidadãos não é capaz de citar uma obra feita pela administração estadual, mas o inquilino do Palácio Iguaçu é ungido pelo respaldo popular e vai curtir as festas da passagem do ano levando na bagagem os votos da massa.
Como muita água ainda deve rolar por baixo da ponte até outubro de 2014 (se é que haverá ponte em algum lugar), não convém esquecer o verso imortal, mas funesto do poeta Augusto dos Anjos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”…
Só faltou complementar o verso do grande poeta: “escarra na boca que te beija!”
O artigo é irretocável, a meu ver.
Ocorre que a sociedade perdeu suas qualidades organolépticas – é insossa, inodora, insípida.
Aceita uma pesquisa dessa como verdade verdadeira.
No Brasil, a sociedade, após as seguidas eleições, não se comporta como senhora do jogo mas como submissa súdita dos “donos do poder”.
Eles enganam, não cumprem o que prometeram, fazem o que bem entendem e ainda se “gabaritam” para as próximas eleições mediante esses expedientes sem a mais mínima significação.
É muita falta de vergonha na cara tolerar esse procedimento farsesco e já que o analisado governante se acha lisongeado vemos que a farsa é vergonhosa.
Até quando vamos tolerar esse tipo de procedimento da politicagem e suas virtualidades?
A forma de medir o desempenho ou popularidade é retórica dos meios de manipulações de opiniões. Enquanto deveriamos ter um quadro comparativo das promessas e propostas de campanha, os avanços práticos, que o Paraná obteve na gestão do Beto. No entanto observamos uma tremenda retração na economia, que só não é maior em razão dos instintos de sobrevivência empresarial. O Beto é um esforço de mídia aliado a lavagem cerebral.