por Arnaldo Correia
Uma das discussões mais estúpidas que o Brasil já promoveu foi sobre a passageira de um avião que se recusou a ceder seu assento na janela para um menino de três anos que chorava pelo lugar que não era dele.
O debate passou sobre a falta de empatia da passageira, a falta de educação da criança e a exposição de todos nas redes sociais por um vídeo gravado.
Poltronas nas janelas dos aviões deveriam ser, preferencialmente, para crianças. Para um adulto pouco importa a janela, o meio ou corredor, nada disso muda sua vida. Ainda mais num voo de cerca de uma hora, como era o da discussão que viralizou nas redes sociais e foi destaque nas TVs.
Especialistas em direito, psicólogos, mães, influencers e viajantes gastaram horas discutindo essa bobagem sob a luz do direito do consumidor, direito aeronáutico, psicologia infantil e maternidade, exposição indevida de imagem e o compartilhamento de conteúdo na internet.
Uma criança que chora para se sentar à janela do avião está apenas sendo criança. A passageira não era obrigada a ceder seu lugar, mas poderia ter dado esse presente ao garotinho.
Uma criança na janela de um avião está descobrindo um universo. A decolagem, a subida da aeronave, o início da rota, o aeroporto e a cidade sumindo lá embaixo, a entrada nas nuvens, a flutuação sobre um mundo branco de algodão. Para uma criança, isso é magia, sonho, descoberta. Sua vida nunca mais será a mesma após uma viagem na janela de um avião.
Voei pela primeira vez com 22 anos de idade e tive esse impacto todo. Imaginem uma criança!
Hoje, nem me importo mais onde sento. Não vejo diferença alguma em passar uma hora ou duas na poltrona do corredor, do meio ou da janela.
Aliás, uma vez cedi a passagem de primeira classe para uma amiga e viajei na econômica, para a China! Sim, eu fiz isso. O casal de amigos tinha uma passagem de primeira classe para o marido e assento econômico para a esposa. Na fila do embarque, estavam num dilema na minha frente sobre quem e quando iria de primeira classe, como revezariam os lugares na rota Guarulhos a Xangai, com escala em Dubai.
Não resisti e entreguei minha primeira classe para a esposa do amigo. Eles relutaram em aceitar, mas insisti, disse para aproveitarem a viagem juntos. Eu estava sozinho e não me importava, iria ler praticamente a viagem inteira e já era minha terceira vez voando para a Ásia, sempre na econômica.
O que acho ainda mais absurdo é o Brasil inteiro discutir algo tão banal por semanas. Num país de dois feminicídios, 200 estupros e 700 casos de violência contra a mulher por dia, é o desejo de uma criança de sentar na janela do avião que gera o debate mais acalorado do ano.
Gente, vamos resolver isso de forma preventiva, tornando assentos na janela dos aviões preferenciais para crianças. Enquanto a garotada sonha voando sobre camadas de algodão, vamos debater problemas verdadeiros.
Texto chato para Carvalho….
Caralho
Cara mala
Se não se importa aonde senta fique quieto camarada …..tua opinião
Até que enfim uma opinião sensata e sensível
Paulo Muniz, é onde senta, não é aonde. Obrigado pela leitura.
Excelente texto, ótimo ponto de vista