Com o remake de “Vale Tudo“, novela que discutiu se vale a pena ser honesto num ambiente desonesto, volta à memória o impacto do último capítulo. O empresário corrupto interpretado por Reginaldo Faria foge com a família no avião particular. Ao som de Gal Costa cantando versos de Cazuza (“Brasil, qual é o teu negócio?”), dá uma banana para o país. “Você precisa fazer um personagem fascista para que as pessoas entendam o que significa o fascismo”, disse o ator numa entrevista.

Réu por ter participado dos atos golpistas de 8/1 (e facilitado o trabalho da Polícia Federal ao divulgar imagens da destruição), Léo Índio, primo dos filhos mais velhos de Bolsonaro, fugiu para a Argentina. A suspeita é que tenha pedido asilo por “perseguição política”.

Fugir é um expediente adotado pelos velhinhos de Bíblia na mão. Eles quebram a tornozeleira, gravam insultos no celular e se mandam. Entre janeiro e outubro de 2024, pelo menos 180 brasileiros buscaram refúgio no país de Milei. Foragidas da Justiça, quatro mulheres foram presas após entrarem ilegalmente nos EUA pela fronteira com o México. Três foram detidas no dia seguinte à posse de Trump.

Para reforçar a narrativa de caça às bruxas, influenciadores ligados a Bolsonaro espalharam a fake news de que ele seria preso logo depois do julgamento que o tornou réu. Era uma mentira amiga, mas o capitão desistiu à última hora de comparecer à segunda sessão no STF. Desconfiado, ficou no gabinete do filho 01, em companhia da dublê de senadora e guarda-costas Damares Alves.

Primeiro vão os peixinhos, depois os tubarões. A estratégia da perseguição, mais do que alimentar o delírio da candidatura em 2026, é fundamental para Bolsonaro e seu provável pedido de asilo político. O ex-presidente —que passou dois dias na embaixada da Hungria durante o Carnaval de 2024, estadia no mínimo estranha— já admitiu que, mesmo com o passaporte retido, pode fugir. “Qualquer um pode”, garantiu. Imagine quem tem meios, motivos, informantes e ajuda da extrema direita internacional