6:23Obrigado, doutores!

por Célio Heitor Guimarães

Fernanda, minha neta querida, que cursa com dedicação, gosto e bom-proveito o 3º ano da Faculdade de Medicina, da Universidade Positivo, pede-me para que eu escreva sobre os médicos. Digo-lhe que já escrevi, mas que não custará reescrever, já que devo a minha vida a eles, os doutores.

Quando eu tinha onze meses, em meados do século passado, uma inflamação nascida na garganta infectou o meu organismo, espalhando-se rapidamente pelo corpo todo, com erupções no peito, no joelho direito e no cotovelo esquerdo. Era o que se chama de septicemia, então muito mais grave do que hoje em dia. Eu tinha poucas condições de sobreviver, numa época em que nem mesmo penicilina havia.

Por sugestão derradeira do pediatra Haroldo Beltrão, meu pai procurou o Dr. Mário de Abreu, na Santa Casa. O diagnóstico do cirurgião soou desesperador:

– A situação é gravíssima. Podemos tentar uma cirurgia, mas a chance do menino sobreviver é de apenas 1%. Devemos tentar?

Meu pai não se deu por vencido: “Se há 1% de chance, devemos tentar sim” – respondeu, com toda a fé no taco do Dr. Mário de Abreu.

Resultado: ainda estou aqui, oitenta e três anos depois. 

Com emoção e agradecimento, assisti às homenagens que, em 2006, foram prestadas ao Dr. Mário Braga de Abreu, por ocasião do centenário de nascimento do extraordinário médico curitibano. Foram várias, mas ainda assim insignificantes, diante da grandiosidade do personagem, um dos maiores cirurgiões do Brasil, que tantos e tamanhos serviços prestou à nossa gente, numa época em que medicina se fazia com amor, dedicação e humanidade. Aliás, o Dr. Mário de Abreu, mais do que médico, cirurgião, professor e orientador de jovens, era um humanista, tão dedicado aos pacientes quanto voltado ao ser humano. Aos alunos da UFPR, na escola de cirurgia do HC, na PUC ou na Santa Casa de Misericórdia, sempre procurou ensinar bem mais do que a ciência médica e a técnica cirúrgica. Com o necessário rigor, dava-lhes aulas de vida, como pessoas e como profissionais. Para ele, um paciente não era apenas um paciente, mas alguém que, além de atendimento médico, necessitava de atenção e compreensão. Também achava que um médico não deve visar promoções pessoais e/ou vantagens financeiras. “Isso é secundário e virá naturalmente” – repetia. Tão diferente dos dias de hoje.

Não me foi possível agradecer em vida ao Dr. Mário de Abreu, mas ele me merece eterno preito de gratidão. Não só de mim, mas de muitas pessoas que também devem a vida ao grande e inesquecível brasileiro que tanta falta nos faz.

Quase oitenta anos depois, passei a dever a vida também a outros profissionais da medicina – tão competentes, diligentes e talentosos quanto o Dr. Mário –, os cardiologistas Drs. Cláudio Pereira da Cunha e José Rocha Faria Neto, que me impuseram o uso de marca-passo cardíaco, e ao cirurgião cardiovascular Dr. Vinicius Woitowicz, que implantou o aparelho no meu peito.

Sem ele, eu não estaria aqui dedilhando esse teclado e atendendo ao pedido de minha neta. Já havia sofrido alguns rápidos apagões e, a qualquer momento, poderia advir um apagão fatal.

Por isso, sou também profundamente grato aos Drs. Cláudio, José e Vinicius, que honram a profissão e prolongaram a minha vida, com qualidade e eficiência.

Resta-me desejar à minha querida Ferzinha um futuro brilhante, com amor à profissão médica e dedicação total aos clientes por vir. É uma carreira difícil, sofrida e exaustiva, mas que também gratifica os profissionais que a ela se dedicam em favor da saúde e do bem-estar do ser humano.

Ave São Lucas Evangelista!

 

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