11:02LEROS

de Carlos Castelo

§ Já parou para pensar na crise existencial que é apresentar a pessoa com quem você vive? Antigamente era simples. “Essa é minha mulher.” Pronto. Direto, eficiente, como quem pede um café preto sem açúcar. Só que aí o mundo virou um lugar complicado. Agora, se digo “minha mulher”, parece que saí de um curral de 1820, laçando gente.
Aí sugeriram “companheira”. Não sei, me soa como se estivesse fundando um sindicato. “Essa aqui é minha companheira.” E lá vai ela: metade da louça para mim, metade para ela, e a culpa é toda do capitalismo.
“Esposa”. Convenhamos, parece nome de bula de remédio. “Consulte sua esposa antes de iniciar qualquer atividade física.” Ninguém fala “esposa” e consegue manter o fogo mútuo.
E “parceira”? Parece nome de dupla sertaneja. “Eu e minha parceira, sucesso em Goiás!”
Por um tempo tentei “namorada”. Mas, depois de 12 anos, 4 filhos, 2 hipotecas e um cachorro doente, chamar de “namorada” é querer forçar um clima de balada que já morreu no começo do século.
E o pior é quando não chamo de nada. “Essa aqui é a pessoa que está comigo.” Parece que estou apresentando minha advogada.
O que resta? Criar um nome novo? “Essa é minha convivente emocional.” “Minha coabita.” “Minha sócia de afetos e boletos.”
No fundo, o casamento moderno não acaba no divórcio, acaba na hora de apresentar a pessoa no churrasco. Porque se você não sabe nem como chamar, como vai brigar por causa da toalha molhada em cima da cama?

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