13:58LEROS

de Carlos Castelo

§ Nos grupos de WhatsApp de condomínios debate-se tudo. Do surto de baratas no subsolo até aquele misterioso desaparecimento do vaso de samambaia no térreo, nada escapa ao escrutínio dos moradores.

No entanto, um fenômeno jamais merece menção nesses tribunais eletrônicos: o bafo de jererê que paira pelos corredores. A erva queimada exala sua presença, dissolvendo-se entre as paredes, e todos farejam, franzem o nariz, mas ninguém ousa dizer uma palavra.

Não se enganem: o silêncio sobre o assunto não é um ato de tolerância. É um reflexo da covardia condominial. Porque quem vive de picuinhas precisa escolher bem suas batalhas, e reclamar de uma criança chutando uma bola no hall é fácil. Já acusar alguém de transformar o décimo segundo andar numa extensão da Jamaica exige mais coragem.

E assim segue nosso pequeno feudo moderno, onde a indignação é seletiva e a coerência um luxo. O grupo de WhatsApp continuará fervilhando com debates intermináveis sobre reformas e dedetizações, mas o odor da hipocrisia continuará fedendo.

Uma ideia sobre “LEROS

  1. Rolando Caio da Rocha

    Se o autor está assim tão incomodado com o cheiro da djamba, por que ele mesmo não usa o grupo de whatsapp para reclamar com quem é de direito. Ou melhor, por que não liga para a Cúria metropolitana e reclama direto com o Bispo?

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