por Arnaldo Correia
21 de Janeiro de 1971
Às 11h da manhã, novos militares chegam à casa de Rubens Paiva no Leblon e anunciam que sua esposa Eunice, e a filha mais velha, Eliana, de 15 anos, seriam levadas para reconhecer algumas fotos. As prisões de Rubens, Eunice e Eliana foram feitas sem qualquer ordem judicial ou outro documento.
A casa estava liberada, os militares todos foram embora. As crianças foram deixadas sem pai nem mãe, não havia nenhum adulto na casa, que ficou trancada por fora.
Antes de o Fusca creme dos militares chegar no DOI-CODI, Eunice e Eliana tiveram que colocar capuzes pretos. Lá, tinham que olhar álbuns de fotos e dizer se conheciam as pessoas. Houve um dia que Eunice viu que a foto do marido tinha sido adicionada ao álbum de “terroristas”.
Rubens Paiva estava no mesmo prédio. Estava nu, debilitado, sendo torturado e espancado havia 24 horas. Testemunhas dizem que apenas o ouviam chorar e falar que seu nome era Rubens Paiva. Durante a tortura, os militares tocavam a música Jesus Cristo, de Roberto Carlos, para abafar o barulho do espancamento.
À noite, foram percebidas movimentações intensas na cela de Paiva. Um médico entrou e recomendou que o levassem a um hospital. Não se sabe ao certo o horário, mas da noite de 21 de janeiro para a madrugada de 22, Rubens Paiva teve uma grande piora, as movimentações foram maiores. Testemunhas dizem ter visto um homem ser arrastado pelos pés de dentro da cela de Paiva.
Hoje à noite, há 54 anos, Rubens Paiva será assassinado. Tem gente que acha isso normal.