6:59Diários da Ditadura II

por Arnaldo Correia

21 de Janeiro de 1971

Às 11h da manhã, novos militares chegam à casa de Rubens Paiva no Leblon e anunciam que sua esposa Eunice, e a filha mais velha, Eliana, de 15 anos, seriam levadas para reconhecer algumas fotos. As prisões de Rubens, Eunice e Eliana foram feitas sem qualquer ordem judicial ou outro documento.
A casa estava liberada, os militares todos foram embora. As crianças foram deixadas sem pai nem mãe, não havia nenhum adulto na casa, que ficou trancada por fora.
Antes de o Fusca creme dos militares chegar no DOI-CODI, Eunice e Eliana tiveram que colocar capuzes pretos. Lá, tinham que olhar álbuns de fotos e dizer se conheciam as pessoas. Houve um dia que Eunice viu que a foto do marido tinha sido adicionada ao álbum de “terroristas”.
Rubens Paiva estava no mesmo prédio. Estava nu, debilitado, sendo torturado e espancado havia 24 horas. Testemunhas dizem que apenas o ouviam chorar e falar que seu nome era Rubens Paiva. Durante a tortura, os militares tocavam a música Jesus Cristo, de Roberto Carlos, para abafar o barulho do espancamento.
À noite, foram percebidas movimentações intensas na cela de Paiva. Um médico entrou e recomendou que o levassem a um hospital. Não se sabe ao certo o horário, mas da noite de 21 de janeiro para a madrugada de 22, Rubens Paiva teve uma grande piora, as movimentações foram maiores. Testemunhas dizem ter visto um homem ser arrastado pelos pés de dentro da cela de Paiva.

Uma ideia sobre “Diários da Ditadura II

  1. Lucas

    Hoje à noite, há 54 anos, Rubens Paiva será assassinado. Tem gente que acha isso normal.

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