8:29Diários da Ditadura I

por Arnaldo Correia

20 de Janeiro de 1971

Feriado de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro. Às 10h30, seis militares da Aeronáutica, em trajes civis e armados de metralhadoras, invadem a casa do ex-deputado federal Rubens Paiva, na rua Delfim Moreira, 80, esquina com Almirante Pereira Guimarães, em frente à Praia do Leblon.
Depois de cassado em 1964, Paiva passou a atuar como engenheiro civil. Foi bem-sucedido, com obras por toda a cidade. Mesmo com uma vida financeira confortável de classe alta, contribuía com movimentos de esquerda que questionavam a ditadura.
Rubens Paiva havia caminhado na orla cedo e já estava em traje de banho para ir à praia. Lia jornal e fumava charuto enquanto aguardava a mulher Eunice se arrumar.
Dois militares levariam Paiva preso para interrogatório e outros quatro ficariam vigiando a família, uma mãe com cinco filhos menores.
Paiva pediu para colocar terno e gravata antes de ir.
Foi levado a 3ª Zona Aérea, perto do Aeroporto Santos Dumont. Na mesma noite, seria transferido para o quartel do I Exército, na Tijuca, onde funcionava o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, o temido DOI-CODI, principal centro de tortura do governo militar.
Paiva começou a apanhar na Zona Aérea e continuou a ser espancando no DOI-CODI. Queriam que desse informações sobre os grupos de esquerda. A principal suspeita era que ele repassava cartas que vinham de exilados do Chile. Não se sabe que cartas seriam, de tramas de guerrilha ou de um pai para uma família.
Enquanto Rubens Paiva era espancado, sua casa ainda era ocupada por militares. Eles fecharam as janelas e cortinas, guardaram as armas e não trataram mal os moradores. Chegaram a jogar futebol de botão e baralho com as crianças. Almoçaram e jantaram, passaram a noite.

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