Às 2h14 alguém caiu no precipício. Acordo de um longo sonho vívido. Expressão nova para centenas de viagens dentro da noite surpresa. O aperto de sempre. Uma veneziana semiaberta é real. Uma luz branca, tênue, está ali desde antes do nada. O travesseiro, gelado. A mente, inquieta. Incêndio de mil fatos levam o lençol para a boca. Mordida forte. Ainda tenho dentes. Vinte e cinco posições para retomar… o sono? quem caiu naquele mar de verdes com pedras explodindo? Mão direita fechando os olhos já fechados. Deus é chamado como se fosse possível um banho sagrado – e uma borracha mágica apagando quase tudo para deixar o corpo como se fosse de um anjo sem pecados. Os números da mais famosa telinha do mundo indicam 4h38 minutos. Falta pouco? Falta muito? Não vai acabar nunca? Tudo clareia depois das 5h00. Sentado na beirada da cama. Um par de sandálias me chama. São reais. O banheiro está ali. O xixi sai num jato. O espelho com o retrato de sempre. Olhos inchados. Algo de verde aparece em volta das pupilas. À direita, dois registros metálicos na parede do box. Entro. O da esquerda abre um jato de água fria. Fosse mergulho no mar gelado, Iemanjá escutaria pedido de proteção para todos, inclusive inimigos. Perfume de sabonete. Lâmina limpando fios grossos da barba. Toalha felpuda limpa. Uma música invade a mente. Ao vivo, ela trouxe o vento para que os eucaliptos balançassem numa grande praça pública. Há quantos anos? Foi ontem? É agora. Estou vivo. E leve. Vem o entusiasmo natural de quem esteve por muito tempo nos labirintos das catacumbas. Parabéns a você.