No primeiro dia de março de 2023 a tarifa do transporte público em Curitiba chegou aos R$ 6,00 e até hoje se mantém como uma das mais altas do país, perdendo apenas para Florianópolis (SC), que é de R$ 6,90 desde janeiro do ano passado. Na capital paranaense não houve mais aumento, mas a carga continua pesada e este é o grande desafio que será enfrentado pelo novo prefeito, Eduardo Pimentel, eleito em outubro passado. Nove dias depois do último reajuste em Curitiba, como vice-prefeito, estava na reunião com o então prefeito Rafael Greca e o secretário de governo, Luiz Fernando Jamur, com a superintendente de Estruturação de Projetos do BNDES, Luciene Machado, para começar a tratar da nova concessão do transporte coletivo que acontece 15 anos depois da última – e deve ser finalizada no terceiro trimestre deste ano. O que pode acontecer? O novo prefeito admite que já conversou, superficialmente, com alguns dos principais atores envolvidos no entorno desta negociação, não esquece que entre as promessas de campanha estava a tentativa de suavizar o peso da tarifa no orçamento do curitibano que depende do transporte para trabalhar, mas que está indo devagar, um dia de cada vez, daí ressaltar que tudo vai começa a andar de fato a partir do estudo completo sobre o sistema que está sendo feito pelo BNDES – para então dar início à preparação da licitação. O assunto torna-se ainda mais complexo porque tem uma explosiva carga na sua repercussão política que envolve também o governo do Paraná, onde Ratinho Junior pavimenta o caminho para ser candidato à presidência da República e é o líder do grupo onde Pimentel é um linha de frente exposto com seus atos administrativos. O jogo é bruto nessa área onde um mesmo grupo empresarial da capital controla o sistema há seis décadas – com o agravante que agora, desde as primeiras conversas sobre a nova licitação, ficou claro e registrado na prefeitura que a nova modelagem da concessão “prevê a modernização do sistema, a reestruturação dos serviços de mobilidade da Rede Integrada de Transporte (RIT) e a descarbonização gradual da frota, com forte aposta em ônibus elétricos”. A meta, bastante ambiciosa, é que até 2030, com o projeto da mudança da matriz energética, 33% da frota de ônibus seja de ônibus elétricos, com emissão zero – e que a totalidade seja alcançada em 2050. Entre os planos e a compreensão da população existe um componente fundamental – o bolso. A equação disso tudo é complicada, mas Pimentel, que ainda se acostuma com o poder, diz que vai buscar o que povo espera.
O transporte público em Curitiba é uma sinuca de bico. Hoje a tarifa técnica é de R$ 7,07 e o usuário paga R$ 6,00 (a Prefeitura tem que subsidiar o sistema, pagando a diferença de R$ 1,07 por cada passageiro que utiliza os ônibus). Isso significa que todos os curitibanos, pagadores de impostos, independentemente de usar ou não os ônibus, ajudam a manter o sistema funcionando. Nesse quadro deficitário, foi implantada a medida populista de baixar para R$ 3,00 a tarifa aos domingos e feriados. Com isso, foi socializado ainda mais o prejuízo, pois nesses dias de tarifa reduzida a Prefeitura (ou melhor, nós, os pagadores de impostos) terá que bancar R$ 4,07 por passageiro que utilizar o sistema. E não esperem milagres com a nova licitação. Custos são custos e não desaparecem nem diminuem por mágica. Dificilmente o sistema conseguiria se manter em funcionamento com uma tarifa técnica igual ou abaixo de R$ 6,00. A realidade é dura e cruel, se a Prefeitura, depois da nova licitação, não subsidiar o sistema, o usuário muito provavelmente terá que pagar uma tarifa pesada. Quem viver, verá!!
A tarifa de Florianópolis, a exemplo de Curitiba, era de 6 reais, e sofreu reajuste, passando a 6,90, neste janeiro, corrigindo a informação acima. Ambas as capitais têm as tarifas de transporte mais elevadas do país.