por Célio Heitor Guimarães
Enfim, bom senso no mundo da farda. Foi preciso que uma mulher ganhasse inédita posição de destaque para que a verdade sobressaísse. Em março vindouro, a ministra Elizabeth Rocha, que já fora a primeira mulher a compor o Superior Tribunal Militar, será também a primeira mulher a presidir a Corte. Mas, mesmo antes de tomar posse, já está botando ordem na casa, dizendo a que veio e o que pensa.
Em entrevista ao site UOL, Elizabeth Rocha afirmou com inusitada coragem: “Eu sempre defendi que os militares devem se subordinar ao poder civil. A importância do poder civil submeter o poder militar – e a criação do ministério da defesa é uma consequência disso – é justamente para que os militares que detêm as armas da nação, que são investidos no monopólio da força pelo estado, sofram uma série de constrições que estão constitucionalmente previstas”
A partir de março, a ministra também participará do julgamentos de militares que foram investigados durante a Operação Contragolpe da Polícia Federal, que indiciou 24 militares e resultou na prisão do general quatro estrelas Walter Braga Neto, acusado de tentativa de golpe de Estado. Ele chegou a chamar o comandante do Exército Freire Gomes de “cagão” e pediu “a cabeça dele”.
Para Elizabeth Rocha, “os militares são soldados investidos das armas da nação” E por isso a sua “participação na política é problemática e deturpa o papel dos militares”. Na sua opinião, “Militar só sobe em palanque no 7 de setembro, e não é um palanque político”.
Segundo a ministra, “o militar não deve ocupar cargos políticos, como aconteceu no governo anterior. E [se o militar] ainda está na ativa, a situação se torna ainda mais complicada. Porque leva a política para dentro dos quartéis. E quando a política adentra aos quartéis, a hierarquia e a disciplina sofrem rachaduras”.
Ela foi eleita presidente em uma votação apertada – 8 de 15 votos dos ministros da Corte militar – e faz questão de destacar que foi eleita também pelo seu próprio voto. “Meu voto representa o de todas as magistradas”, diz.
E como fecho:
“O que eu busco é justamente trilhar caminhos para que mulheres e meninas jovens não passem por todas as dificuldades que eu passei. Nós, mulheres, somos uma força irresistível. Afrontamos o patriarcado constantemente”.
Bravo, magistrada Elizabeth! Oxalá o seu exemplo e a sua postura de intérprete e aplicadora da lei se estenda a mais homens e mulheres de toga deste país!
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha é mineira de Belo Horizonte, tem 64 anos e ingressou no Superior Tribunal Militar em 2007. Feminista e defensora de direitos humanos, quer conduzir uma gestão ‘mais progressista’ no STM e faz questão de manter sua heterogeneidade na Corte: “Não vou me render ao mimetismo apenas para me sentir incluída” – pontua.
Cumprimentos !!!!