Um homem de sorte. Beijou duas mulheres de 101 anos. A primeira estava mais que lúcida. Chegou andando ao local do encontro, sentou no sofá e sorriu para uma câmera que filmava tudo. Maquiada, adornada por joias, só saiu do sério, como fez em toda vida, ao revelar que nunca gozou na vida. Para exemplificar, ergueu as duas pernas e começou a balançá-las alternadamente para, com gemidos, dizer que mentia na hora do sexo. Ao final da entrevista, pedi um selinho. Ela imediatamente fez o bico. Beijei Dercy Gonçalves. Fotos e gravação da entrevista se perderam no tempo. Jamais esquecerei a honra obtida. Hoje foi diferente. Estava de máscara ao entrar no retiro de repouso. Tia Edith me viu, os olhos maravilhosamente azuis e cristalinos brilharam. Cheguei perto e ela lembrou que, tempos atrás, aconteceu o primeiro beijo. Foi quando ela fechou os olhos, como uma musa do cinema alemão dos anos 40, e depois fez gesto e suspirou para demonstrar que estava saboreando uma iguaria. Ao sair do encontro de horas atrás (ano passado cantei o parabéns para os 100 anos muitíssimo bem vividos dela), olhei a máscara branca e lá estavam duas marcas de batom – a da chegada e a da saída. Só grandes mulheres podem nos presentear assim.