por Marcos Barrero*
Dalton Jérson Trevisan foi fundista do Athletico Paranaense, o Furacão, no final dos anos 1930 e início dos 1940. Tinha uns 15 anos. Queria ser campeão, se não de longa distância, pelo menos nos 110 metros. Corria de óculos, calção branco e sem camisa. Há uma foto do jovem Vampiro com outros atletas, de 1946. Logo depois, foi estudar Direito. Nessa condição, pelo time da faculdade, pisou contrariado o tapete verde do Coritiba, o Coxa Branca, em jogo de equipes estudantis. Futebol? Não gostava. Samba? Nem pensar – apesar de a temática de seus livros ser as classes inferiores da sociedade.
Chegou a procurar autoridades locais pra exigir providências contra o Coritiba. É que sua casa ficava perto do estádio – e os fogos e o barulho da torcida tocavam o terror em seus cães – a cadelinha Firififi e o salsicha Tobi. Ambos, aliás, personagem de seus livros.
O Vampiro gostava tanto de esporte que na adolescência chegou a traçar umas linhas sobre o tema num jornalzinho curitibano. Dizia, em tom positivista, que o esporte era “era elemento necessário à formação do caráter”
O Vampiro sempre quis viver nas sombras. Até em casa mantinha distância da mulher e das duas filhas. Sentava-se à mesa do café da manhã apenas depois que a família punha-se em pé. A inconfidência me foi feita por um de seus grandes amigos, Mário de Melo Leitão – protético, cronista amador, boêmio falastrão, cara de panda, rei da noite.
O Vampiro o procurava com insistência na redação de A Gazeta do Povo e atrás de copos e mulheres dos bares da noite. O boêmio foi fonte de muitas das histórias dos livros iniciais de Dalton. Rigoroso e metódico no ofício, o Vampiro aparecia aos olhos do amigo com uma cadernetinha nas mãos, anotava toda a conversa e, saciado, ia embora de repente.
Dalton lutou ainda, Deus do céu e da terra!, pra remover uma igreja evangélica estabelecida nos fundos de seu esconderijo. Conseguiu mudar um ponto de ônibus instalado na porta de sua casa e reagiu com fúria contra uma sauna masculina que brotou nas imediações. Ali os encontros verticais e horizontais se davam ao som de música de discoteca. O Vampiro então decidiu: putaria nos livros, sim; na porta de casa, nem fudendo. E, ironia, lutou contra a casa até removê-la do pedaço. Não queria nenhum ruído por perto. Trancava-se numa edícula nos fundos do quintal pra escrever. Para ele e família, o lugar tinha outro nome: cabana.
*Repórter que entrevistou Dalton Trevisan na rua, em pé, em frente a uma banca de jornal na Boca Maldita, em outubro de 1979. O texto, publicado na revista Status em maio de 1980, fez enorme sucesso.
fundista corre distância longa…
Nos idos de 2009, 2010 um jornalista fez uma reportagem com o Dalton sem se saber que era uma matéria. Fico sensacional e o Dalton odiou. Coisas do jornalismo.
O jornal foi a Folha de Londrina .
A igreja evanjegue deixou a vizinhança do Dalton porque o pastor quis ou porque o empreendimento quebrou. E a sauna gay continua lá, de frente pra Amintas de Barros, ao lado do terreno que já pertenceu a Dalton.