Foto e texto de Beto Mallmann
Tava sentado no banco da bancada do boteco. 17 horas. Fui tomar uma cervejinha pra quebrar o meio da semana e assistir um clássico do futebol mundial, Liverpool x Real Madrid. Já é final de expediente para alguns. Subindo a ladeira vem um aflito e pede uma dose. Bebe de uma talagada. Conversa com o dono e relembra os velhos tempos. Pede uma batata recheada, especialidade da casa. Logo chega outro, esse vem descendo a ladeira. Pede a dose tão esperada, diz que é pra acalmar porque o dia foi violento. Brinda com o parceiro e o dono do bar, mas só bebe depois de dar o primeiro gole pro santo. Os garçons conhecem todos que vão chegando. Sabem a cerveja, a dose que bebem e petisco preferido. A grande maioria que está aqui tem seus cabelos brancos – to me incluindo nessa. Do nada chega um rapaz mais novo, traz um cavaquinho. Senta numa mesa e pede uma cerveja e um lanche. Enquanto não chega, ele pega o instrumento e começa a tocar. Surpreende com Trem Azul, um sucesso dos anos 70, do sensacional disco Clube da Esquina. Lembro dos meus tempos de faculdade, quando entrei no começo dos anos 80. Muita utopia e ingenuidade e vontade de mudar o mundo junto. Boteco é assim. Cabe todo mundo. Cabem muitas histórias. E me vem o saudosismo de lugares e momentos que estão ficando raros. O boteco é uma resistência. O melhor lugar para se frequentar.
Pedi um rabo de galo e fechei a conta.