por Hélio Schwartsman, na FSP
Horror a dissonâncias cognitivas explica resistência de bolsonaristas em aceitar informações desfavoráveis ao ex-presidente
Parte significativa dos 25% de eleitores que se declaram bolsonaristas convictos continuará a bater continência para o ex-presidente independentemente do que a Justiça prove contra ele.
Isso tem muito a ver com a arquitetura de nossos cérebros, que têm horror a dissonâncias cognitivas. Elas se dão quando existe uma contradição entre ideias nas quais temos grande investimento emocional e a realidade. Esse choque é mentalmente doloroso, daí que o cérebro se vale de subterfúgios para reduzir a distância entre o desejado e o verificado. São as autojustificativas.
Drew Westen observou em aparelhos de ressonância magnética cérebros de militantes políticos tentando apaziguar dissonâncias e verificou que os circuitos neuronais utilizados no processo são os sistemas de recompensa, os mesmos envolvidos na dependência de drogas. Os militantes parecem sentir prazer quando conseguem “tirar” seu líder favorito de um embaraço.
Há vários caminhos para isso. O menos sofisticado deles é acionar o viés de confirmação e simplesmente ignorar o dado que causa incômodo. Mas nem sempre é possível fingir que não viu. Aí, o sujeito pode recorrer a narrativas que reduzam a incongruência entre o esperado e o constatado. É a raposa da fábula de Esopo dizendo que as uvas que ela não consegue alcançar estão verdes.
Militantes mais rebuscados (ou mais pressionados) podem subverter os próprios conceitos. Eleitores de Donald Trump e Jair Bolsonaro não encontram dificuldades para afirmar que votam para salvar a democracia. Eles simplesmente a redefinem em termos que satisfaçam a suas necessidades de autojustificação, coisas como combater a “tirania judicial” ou defender a liberdade de expressão. No limite, dá até para insurgir-se contra os fatos, afirmando ter havido fraudes mesmo que não exista o menor indício delas.
O que nos salva é que uma parte não desprezível das pessoas, em geral as menos apaixonadas por ideologias, reage racionalmente e muda de posição de acordo com as novas informações que receba. Esse grupo já nos livrou de Bolsonaro em 2022.
Mas e quem será o “inimigo” do outro “líder favorito”, o aiatolá de Garanhuns?
Sem “aquele que não se pode dizer o nome” como adversário haverá alguém além da própria incompetência para ser o adversário?
Culpar “azelite” e os “americanu” já não cola mais, a imprensa é amiga, quem será o “inimigo”?
E como agora ficou mais difícil “des culpar” o inominável…então vão ter que encontrar um outro “inimigo da democracia”, “fascista” e claro, o xingamento máximo: “direita!”.