por Helio Schwartsman, na FSP
Revelações sobre trama golpista pioram situação política de ex-presidente
O tempo fechou para Jair Bolsonaro e seus acólitos. As novas revelações sobre a trama golpista mostram que o movimento avançou bem mais do que se imaginava, estava muito mais próximo do Alvorada do que se supunha e tinha características bem mais radicais também, tendo chegado a arquitetar os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes.
Haverá consequências em três planos, o político, o jurídico e o institucional. Na esfera política Bolsonaro já foi atingido. Não digo que está liquidado, porque em política nada é tão definitivo (vide Trump), mas acho que a partir de agora será muito difícil que ele consiga apoio para uma anistia.
O centrão que deu sobrevida a seu governo tolera bravatas e irresponsabilidades, mas tende a ser cioso da democracia. É dela, afinal, que os integrantes do bloco tiram seu sustento.
No plano jurídico a situação é menos clara. Em direito, importa o que se pode provar. É preciso ver se haverá evidências diretas do envolvimento de Bolsonaro na conspiração. O nome de Braga Neto já apareceu.
E mesmo aí nada é muito certo. Por estranho que pareça, planejar um golpe não é crime. Nem mesmo prepará-lo. A possibilidade de punir só surge quando a conjura entra em fase de execução. Foi provavelmente por isso que Moraes só autorizou a prisão dos oficiais envolvidos em atos que podem ser descritos como executórios, poupando por ora o ex-ministro da Defesa e outros oficiais.
Há ainda a esfera institucional. Após o 8/1, a cúpula das Forças Armadas teve algum sucesso em vender-se como paladina da democracia por não ter embarcado na aventura. Nunca me convenceram. Vê-se agora que o envolvimento de setores do Exército foi bem mais direto e profundo do que o inicialmente admitido.
Temos de discutir medidas para profissionalizar e modernizar as Forças Armadas, afastando-as de sua sina golpista. É urgente tirar os militares da ativa de cargos políticos, rever os currículos das escolas de oficiais e reescrever o artigo 142 da Carta, para deixar claro que não cabe aos fardados escolher qual Poder vão obedecer.