Todo dia, em canais de igrejas evangélicas, se propaga a possibilidade de “curar” dependências do álcool, todo tipo de drogas, jogo, etc. No domingo, num quadro do programa de Luciano Huck, na Globo, milhões de telespectadores ouviram a mesma coisa num quadro onde um dependente em recuperação voltou a se encontrar com a família (mãe e duas irmãs) na Nova Zelândia, onde mora há dez anos, trabalha, casou, tem filhos, etc. Em Salvador, Bahia, ele quase morreu se drogando, foi internado várias vezes antes de começar a trilhar o caminho da sobriedade. Sim, foi emocionante a surpresa dele, que não falou em cura, como os outros, mas sim que continua “limpo, só por hoje”. O verbo propagado é complicado, porque não existe. Se a pessoa, de um jeito ou de outro, estivesse “curado”, poderia pensar em voltar a tomar uma cervejinha ou um copo de vinho, por exemplo. A questão toma uma dimensão perigosa porque falta informação aos leigos que lidam com dependentes na família e com o próprio doente. Para quem consegue ouvir a verdade, o que se aprende é que não há cura, mas sim controle da dependência, no dia-a-dia. Saber de verdade essa máxima é uma ferramenta importantíssima para se manter sóbrio. Prova? As recaídas com cinco, dez, vinte anos. Pessoas caem na ilusão de que, depois de tanto tempo podem, controlar o uso de qualquer substância. O que acontece é o que o Alcoólicos Anônimos explica de forma simples e direta: no momento em que a pessoa para de usar a substância da preferência, é como se apagasse uma vela que estava queimando; se, anos depois, ela volta a beber, usar a droga da preferência, a vela é acesa novamente e continuará a queimar de onde parou. Resumindo: o doente vai voltar a consumir da maneira que fazia anos antes. É isso!