6:39Austeridade máxima

por Carlos Castelo

Dias atrás, assisti a uma palestra do publicitário Roberto Duailibi, o ‘D’ da lendária agência DPZ. Segue firme e em plena forma aos 89 anos de idade. Entre seus tantos causos, Roberto mencionou o notório pão-durismo de seu premiado diretor de criação, Neil Ferreira. Contou que o criativo namorava sua irmã e que, durante nove anos, almoçou diariamente na casa dela com o objetivo de economizar para a compra de um apartamento. Adquiriu o imóvel e, em seguida, casou-se com outra mulher.
A história me remeteu, na hora, à de um amigo de nossa família, o Amâncio. Foi um dos indivíduos mais avarentos que já conheci na vida. Não abria a mão nem para coçar o nariz.
Certa vez, tivemos que fazer um bate-volta ao litoral norte de São Paulo. A esposa de Amâncio não passara muito bem, e eu aproveitei para pegar uma carona com ele. Era um verão abrasador, eu estava de férias e queria aproveitar uns dias me refrescando al mare. Não foi uma boa ideia. Para economizar combustível, Amâncio desceu toda a serra com o motor desligado e, na viagem de volta, subiu-a com o ar-condicionado fora de uso.
Depois daquela quente e memorável viagem ao litoral, comecei a reparar nos detalhes peculiares de sua sovinice.
Ao viajar, Amâncio jamais se hospedava em hotéis ou pousadas. Carregava o que chamava de kit de sobrevivência – um colchão de espuma já desgastado, uma lanterna e um pequeno fogareiro. Dormia dentro do carro, estrategicamente estacionado, e tomava banho em chuveiros de postos de gasolina.
Em determinada ocasião, ao participar de um almoço de domingo, Amâncio apareceu com um saco de carvão pela metade. Explicou a todos, com semblante sério, que um churrasco ‘não precisava ser tão longo’ e que, com um pouco de planejamento, era possível assar a carne enquanto a brasa ainda estava no início. Quase uma lição de sustentabilidade.
A pior de todas do mão-de-vaca, para mim, foi uma relacionada a seu primogênito, Amâncio Filho. Quando o garoto completou um ano, dirigi-me ao bufê onde aconteceria a festinha de aniversário. Cheguei a estranhar esse gasto extra. Mas, afinal, as pessoas podem mudar. Ao chegar ao local, compreendi tudo. Na porta, estava o próprio Amâncio e, para meu espanto, cobrava entrada para o evento. Ao me ver, foi logo dizendo:
– Bem-vindo à festa, Carlos! São R$ 70,00 por pessoa. Se trouxe presente, tem desconto de R$ 10,00 na entrada.
No ato, me lembrei do dito popular: “para o pão-duro, o bolso é fundo, mas a mão é curta”

(Publicado no O Dia)

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