por Célio Heitor Guimarães
Hoje, vou descumprir um princípio por mim mesmo estabelecido: a não-menção do nome do capitão-golpista. É que o tema exige. Os brasileiros com consciência querem saber por que, a despeito de tudo o que já foi apurado e provado, Jair Messias Bolsonaro ainda não foi preso.
Mais do que isso: livre e solto, continuou envolvido na política municipal, indicando e apoiando candidatos aqui e ali, como se grande líder fosse, pouco importando o partido político. Em São Paulo, esteve com Ricardo Nunes, do MDB; aqui em Curitiba, em tese, apoiou os dois candidatos do 2º turno – Eduardo Pimentel, do PSD, com vice do PL, e Cristina Graeml, do PMB; na pequenina Diamantino (MG), defendeu Chico Mendes, do União Brasil, por acaso (ou não?) irmão do ministro Gilmar Mendes, do STF. Ademais, Carlos Bolsonaro, o Zero 2, foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro, e o caçula Jair Renan, o Zero 4, o candidato mais votado de Balneário Camboriú (SC).
Como diz Conrado Hübner, citado pelo advogado criminalista Luiz Francisco Carvalho Filho, na FSP, “o ex-presidente vive da impunidade”.
O mesmo Carvalho Filho salienta que os processos contra o capitão não caminham. “A PRG não se move. A PF empurra inquéritos com a barriga. A imprensa não estranha as prorrogações de prazo. Bancadas direitistas da Câmara e do Senado (…) tentam acuar o Supremo” – registra.
Há uma decisão do TSE declarando a inelegibilidade de Bolsonaro. Mas recurso do indigitado meliante repousa desde 14 de maio, sem motivo, no gabinete do ministro Luiz Fux. Quer dizer: ao que parece, Messias não conta apenas com a simpatia dos ministros que nomeou para o STF.
Coisas aparentemente inexplicáveis, mas que explicam porque o desequilibrado golpista continua longe do xadrez.
Luiz Inácio Lula da Silva, cujos malfeitos não se comparam com a ação criminosa de Jair Messias Bolsonaro, não teve essa sorte. Por conta da atualmente amaldiçoada Operação Lava-Jato, foi, desde logo, recolhido ao cárcere, onde permaneceu – com inusitada dignidade, reconheça-se – 580 dias. Hoje, está de volta à presidência da República.
Aliás, pelo maior crime que cometeu, o ‘Bozo’ ainda não foi denunciado nem julgado – a disseminação do ódio no Brasil, jogando irmão contra irmão. Nunca houve coisa igual na história do país.
Será que está faltando no atual cenário um juiz do tipo Sérgio Moro? E um procurador do tipo Deltan Dallagnol?
Ao que tudo indica, sim.
P.S. – Ao identificar os eleitores norte-americanos e classificá-los como “fascinantes”, o texto de Ruy Castro, reproduzido ontem pelo Zé Beto, foi antológico: “Imigrantes votam num xenófobo; mulheres, num misógino; pretos, num racista; libertários, num autoritário; moralistas, num imoral; e sinceros legalistas, num camarada que já anunciou que, se eleito, não vai largar o poder.” E aí o criminoso Donald Trump foi reconduzido ao trono.