de Viriato Gaspar
O silêncio, na mesa, não almoça.
Apenas marca faltas, os hiatos,
as vozes que não pedem mais arroz,
favor, passe a salada e o macarrão,
um pouco mais de carne ou de ternura,
a voz que garantia afeto e pão,
em generosas colheradas quentes.
O silêncio é agora o comensal,
o convidado ilustre e reservado
dos antigos saraus, das alegrias.
Comemos faltas, vultos que não vêm,
que faltaram ao jantar e deixam assim
este amargo sem cor no prato cheio
de um vazio calado e sem sabor.
Jantamos no silêncio que restou.