por Paulo Krauss
Estávamos no Instituto no início de tarde de uma sexta quando o telefone do Jaime Lerner tocou. Alguém falando em inglês dizia ser Francis Coppola. Jaime achou que era um trote, mas seguiu com a conversa até acreditar que o sonho era verdadeiro. Era 2003 e Coppola fazia pesquisas para um filme sobre a cidade do futuro. Sua equipe colocou Curitiba na lista de visitas obrigatórias.
Depois de alguns dias na cidade e conversando com Alceu Vezozzo Filho, dono do Hotel Bourbon, onde estava hospedado, Coppola ouviu sobre Jaime pela primeira vez. Vezozzo lhe explicou a importância do ex-prefeito na configuração de Curitiba e Coppola quis conhecer. Vezozzo ligou para Jaime e passou o telefone para o cineasta. Meia hora depois Coppola chegava no Instituto Jaime Lerner.
Conversaram por algumas horas e marcaram um jantar ali mesmo, com a equipe do Jaime. Tive a honra de fazer parte da equipe por dois anos e participar desse encontro de dois gênios mundiais. Jaime era cinéfilo, fã do cineasta. Parecia uma criança encontrando Papai Noel pela primeira vez.
Passaram o fim de semana juntos, numa agenda reservada à família Lerner, Coppola queria discrição. Jaime mostrou a cidade para o cineasta, uma visita técnica com um de seus criadores.
Foram ao Mercado Municipal porque Coppola queria comprar ingredientes para cozinhar para Jaime no domingo. Fez nhoque com molho do próprio Coppola. O almoço foi regado a vinho Coppola até dez da noite.
Antes de partir, Coppola convidou Jaime para passar o fim de ano com ele na vinícola do cineasta na Califórnia. Jaime foi, e os dois mantiveram contato e amizade até o falecimento do ex-prefeito em 2021. A homenagem de Coppola ao amigo vem agora de forma póstuma, retratando Jaime no urbanista protagonista de Megalópolis.