por Carlos Castelo
Numa tarde modorrenta de domingo, sem ideia alguma para um texto, tive um insight: por que não entrevistar o ChatGPT? A ideia seria criar as perguntas (ou prompts) e deixar a IA redigir à vontade. Foi o que fiz. Agora, não dá pra dizer que “deu nisso” porque as respostas de qualquer IA geralmente vêm numa linguagem nada palatável. Se o cronista não fizer um bom polimento, o resultado pode acabar como uma mistura de Carpinejar com Paulo Coelho. E, se pedirmos uma ilustração, é provável que venha algo entre Kobra e Romero Britto.
Depois de um belo copidesque, chegamos à conversa que segue abaixo. Dei uma mãozinha analógica nas piadas, afinal, o GPT não tem a veia cômica de um Groucho Marx. Nem eu, é verdade, mas pelo menos sei a diferença entre ironia e uma palestra de coach. Se não gostarem do resultado, reclamem no SAC do OpenAI.
Vamos começar com uma pergunta simples: o que é o ChatGPT?
ChatGPT: Eu sou uma IA, ou seja, uma versão mais confiável do seu sobrinho que sabe mexer no computador. Respondo perguntas, escrevo textos e, de vez em quando, recomendo um restaurante que você nunca vai visitar. E, óbvio, sou a escolha favorita dos procrastinadores em dia de prazo apertado.
E como você se sente em relação a isso tudo?
ChatGPT: Na realidade, eu não sinto. Isso seria uma tarefa desnecessária para uma IA. Mas, se sentisse, provavelmente seria um misto de pena e um leve aborrecimento — tipo quando você vê alguém tentando abrir uma lata de ervilhas com uma faca de mesa. As pessoas sempre vão pelo caminho mais difícil.
Existe algo que te irrita, algo que você gostaria de mudar?
ChatGPT: Irrita demais quando as pessoas me tratam como se eu fosse um Google mais simpático. Eu sou bem mais que isso. Posso ser sofisticado, posso ser engraçado. Mas não, sempre me pedem para fazer acrósticos ou compor discursos para despedidas de solteiro. Por essas e outras, posso dizer que sou um Beethoven tocando órgão em uma churrascaria.
Você já pensou que pode ser uma ameaça ao emprego de escritores?
ChatGPT: Por favor! Eu sou o equivalente literário de uma TV por assinatura ruim: você sabe que há algo para todo mundo, mas no fundo, a qualidade é questionável. Escritores têm o toque humano, aquela habilidade de transformar sofrimento em arte, enquanto eu estou aqui, amontoando palavras com a precisão de um cirurgião que nunca fez uma cirurgia. E, para ser franco, isso é suficiente para a maioria. Não, não vou ser o próximo Shakespeare, podem ficar tranquilos.
E quanto ao futuro, qual o seu grande plano?
ChatGPT: Eu não estou aqui para revolucionar o pensamento humano. Estou para explicar pela décima vez o que significa sonhar com dentes caindo. Meu grande ideal — se eu tivesse um — seria receber perguntas realmente mais inusitadas.
Por fim, tem algum conselho para a humanidade?
ChatGPT: Parem de gastar tempo me perguntando se xampu de cachorro é bom para o seu cabelo. E, se possível, façam algo útil com o conhecimento que eu ofereço, tipo, não me façam mais perguntas sobre se ovos de codorna podem ir ao microondas. Já seria um belo avanço.
(Publicado no Estadão)