14:44Poemas feios

por Mário Montanha Teixeira Filho

Tenho me dedicado a compor um breve conjunto de poemas feios. Apaixonadamente
feios, inexoravelmente feios, simplesmente feios, sem métrica, sem forma definida, sem
nada a não ser o meu desabafo. Selecionei algumas palavras que estavam engavetadas
no fundo da minha aflição, do cotidiano que maltrata, para distribuí-las conforme o
sentimento dominante no ato da escrita. O resultado, como era de se esperar, me
aproximou não do belo, mas da feiura da vida – eu e o discurso para o vazio do deserto,
eu e a solidão.
Fiquei satisfeito, afinal, com a descoberta dessa expressão seca e verdadeira, a tecer
o “estandarte de guerra”, guia do amor pelo feio, “de igual” para igual”, como Clarice
ensinou.
Eis o meu sentir, que não é feito de imagens doces e suaves, mas é bruto como a
morte. O sentir que ao mesmo tempo sobrevive e me aponta um caminho, aquele por
onde vou.

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