18:24Zulu 90 graus

Não sou poeta, sou porreta. Decidi assim no dia em que me chamaram de cabeça de pedra. Sensível, atravessei a faixa de areia da praia e entrei num bar que era hospedaria também. Eu e dois amigos de aventura bebemos o estabelecimento em duas madrugadas. Era o tempo em que nossa imortalidade não era da academia, mas sim da ignorância. Uma semana ali e as roupas não serviam mais. Inchaço. No vilarejo havia uma igreja evangélica. Entrei no culto e me assustei. Resolvi ir para beira-mar. Era noite. Tinha estrelinhas na água. Tirei o calção e fui mergulhar. Na volta, a escuridão escondeu o que eu usava para esconder. Abri um buraco na areia e me enterrei, esperando que meus amigos me achassem. Acharam, cinco horas depois. Pensaram em entrar no céu de estrelas. Não deixei. Voltamos para “casa” na madrugada. Não havia mais o que beber. Alguém sugeriu água. Quase sai briga. Um litro de álcool Zulu 90 graus estava nos tentando. Fiz uma boa ação. Despejei o líquido na pia. O sol inaugurou o dia. Foi há 40 anos.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.