17:34Desabafos

de João Antonio

“A situação dos meus livros é vexatória, escrota e perversa. Imita o País: deixou Noel morreu tuberculoso, matou Lima Barreto aos 41 anos, fez Mário de Andrade, nosso maior trabalhador intelectual do século, passar tais humilhações que ele bebeu e fumou até estourar antes do tempo, liquidou Glauber Rocha… Assassinatos culturais dos governos inculturais”

“Empanturrado ontem e bebum, no coquetel, escarneci e, de voz empastada, eu disse classe mérdea. Com este embrulho no estômago, pesadão e ressacado, pertenço a que classe senão a ela? … Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do telefone, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa no sistema. E não pessoa. Dane-se!”

“São Mané Garrincha, o Generoso, a Alegria da Gente, aquele que, passando por débil mental, entendeu, sem retóricas e sem palavras vãs, a nossa carência gigantesca de alegria coletiva. Santo, puro santo: o Brasil em pessoa. Ele se doava todo. Pelé, a gente admira; Garrincha, a gente ama”

“Aqui me roubam, me usam, me desrespeitam e até se impacientam com a minha independência, pois, não pertenço a curriolas de nenhuma natureza, não aceito emprego público nem particular, xingo a direita de burra e sanguinolenta, xingo a esquerda de bêbada e intolerante, de festeira e faladeira, de omissa e impopular”

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