por Rafael Moro Martins, no portal Samaúma
Como se formou e atua o Instituto Pensar Agropecuária, a máquina de lobby financiada por sindicatos empresariais para abastecer políticos com leis que destroem a proteção da Natureza e agravam o aquecimento global
‘A Marina torrou e virou fumaça’
“Tiro, porrada e bomba”, responde Evair Vieira de Melo a dois jornalistas do agronegócio que o saúdam com um prosaico “bom dia”. Técnico agrícola filiado ao Progressistas, ele está no terceiro mandato como deputado federal pelo Espírito Santo. É um típico político bolsonarista. Fala alto, metralha frases desconexas em tom desafiador, se veste de forma descuidada. O assunto da conversa que se inicia são os incêndios florestais que devastam a Amazônia, o Pantanal e que haviam chegado a São Paulo, colocando 48 cidades em situação de alerta, fechando aeroportos e sufocando com fumaça o estado mais rico do Brasil.
É final da manhã de terça-feira, 27 de agosto, numa mansão em estilo colonial no Lago Sul, o mais caro dos bairros de Brasília. A renda média dos moradores supera os 20 mil reais mensais. Se fosse um município, o Lago Sul seria de longe o mais rico entre os 5.570 do Brasil, diz um estudo da Fundação Getulio Vargas. O casarão com paredes em terracota e amplos janelões em madeira pintada de verde e beirais brancos é a sede da Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA, e do Instituto Pensar Agropecuária, o IPA. A FPA, mais conhecida como “a bancada ruralista”, é a mais numerosa e bem organizada frente multipartidária do Congresso Nacional. Isso se deve, em grande parte, ao IPA, o centro de comando bancado por 57 associações empresariais que formula projetos de lei e estratégias para os políticos.