6:26Um adeus ao velho Mazza

por Célio Heitor Guimarães

O jornalismo paranaense perdeu, na semana passada, um dos últimos ícones da velha geração. Luiz Geraldo Mazza faleceu aos 93 anos, depois de uma vida toda dedicada à imprensa. Entre outras atividades, comandou duas das maiores escolas jornalísticas do Estado – o Diário do Paraná e Última Hora. E, como todo secretário e/ou diretor de redação que se prezava, tinha todos os requisitos próprios do cargo: dor no fígado, calo, unha encravada e, muito provavelmente, hemorroidas. Mas conhecia como poucos a profissão e a exercia com talento, competência e resultado.

Mazza foi meu chefe, durante algum tempo, na sucursal paranaense de Última Hora. Nunca tivemos qualquer atrito, até porque eu era apenas um colunista setorial e ele, não sei bem porque, sempre me tratou muito bem. Mas assisti a vários perrengues promovidos pelo velho Mazza.

Um deles, envolveu o então futuro secretário do Planejamento (e, depois, de Finanças) de Jaime Lerner no governo do Estado, Miguel Salomão. Na época, Salomão era correspondente de Última Hora no litoral. Naquele dia, trouxera um texto escrito, mas, com receio de entregá-lo pessoalmente ao Mazza, deixou as laudas sobre a mesa do chefe, que estava ausente, e desceu do mezanino-redação e ficou batendo papo com o pessoal da expedição, no térreo. Lá pelas tantas, Mazza chega, sobe e assume a sua mesa. Lá em baixo, Miguel Salomão prende a respiração. No exato momento, ecoa o brado de Luiz Geraldo: “Quem foi que escreveu esta merda?!” Salomão saiu de fino e embarcou no primeiro trem de volta para Paranaguá.

Da Última Hora, Mazza transferiu-se para a CBN e para a Folha de Londrina. Marcou presença no jornalismo da RPC e, durante uma temporada, assinou também, de Curitiba, uma coluna na página de opinião da Folha de S.Paulo. Mas reinava mesmo era na Boca Maldita, à qual comparecia praticamente todos os dias para semear ideias e alimentar polêmicas. Fazia uma bela dupla com Walmor Marcellino.

Já Nilson Monteiro achava que o melhor de Luiz Geraldo “era (poder) acompanhá-lo às barrancas dos rios Iguaçu e da Várzea para pescar lambaris de rabo vermelho e ouvi-lo, espumando pelos cantos da boca e girando os braços como pás de ventilador, sobre qualquer assunto: política, economia, religião, arte, esporte, história, cultura, ética etc.”.

Como de pescaria mal sei colocar a isca no anzol, vou ficar nas letrinhas e, em homenagem ao Mazza, lembrar a equipe que ele comandou nos tempos da Última Hora do Edifício Asa, a maioria da qual recebeu o velho jornalista no plano superior da existência. Com o risco de cometer alguma omissão involuntária, vai aí: Mussa José Assis, Aramis Millarch, Walmor Marcellino, Adherbal Fortes de Sá Júnior, Sylvio Back, Jairo Regis, Maurício Fruet, Cícero Cattani, Celina Luz, Naim Libos, Alenir Dutra, Carlos Augusto Cavalcanti de Albuquerque, Raphael Munhoz da Rocha, Clóvis de Souza, Milton Ivan Heller, Milton Cavalcanti, Francisco Camargo, Walmor Weiss, Mauri Furtado, Mauro Ticianelli, Miecislau Surek, Jalvi Ferreira, Altamir Freitas, Francisco Bettega Neto, Lascir Costa, Maurício Távora, Renato Schaitza, Nelson Commel, Vinícius Coelho, Edson Jansen e o digitador que vos digita. 

Segundo página publicitária, “Esta é a equipe que faz o melhor jornal do Paraná”. E, sem nenhuma modéstia: “São jornalistas altamente capacitados que ÚLTIMA HORA reuniu em Curitiba para noticiar, interpretar e comentar os fatos, numa cobertura de 24 horas diárias. É evidente que eles não estão sozinhos. Há outras equipes nas três cidades-chaves do Estado: Londrina, Ponta Grossa e Paranaguá. Há correspondentes em todo o Interior. E há a Rede Nacional-UH”.

Não recordo quem dirigia a sucursal de Ponta Grossa, mas a de Londrina era dirigida por Carlos Eduardo Fleury, que depois transferiu-se para Curitiba para suceder Ary de Carvalho. A de Paranaguá era comandada por Miguel Salomão, como citado acima.

Bons tempos aqueles, que, se não voltarão jamais, fizeram história e deixaram saudade. Como o velho Luiz Geraldo Mazza está deixando.

 

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