8:10Velório ao vivo

por Carlos Castelo

§ Fui a um sepultamento recentemente. Fazia um bom tempo que não ia a um, o que, por um lado, é positivo. No entanto, uma coisa me chamou a atenção: um rapaz estava transmitindo as exéquias em tempo real, pelo celular, para parentes que não puderam comparecer à cerimônia. Ele ia fazendo o travelling e narrando: “olha aqui o tio Neno, a tristeza que está esse homem com a morte do primo” E por aí afora. O fato me fez refletir. A tecnologia, que já transformou tantos aspectos de nossas vidas, agora parece estar prestes a digitalizar até o último adeus. Não vai demorar para que velórios online se tornem comuns (se é que já não existem). Escolheremos filtros para o caixão, arranjos de flores 3D, emojis de luto. Só não vai dar para dizer que as transmissões dos enterros são ao vivo.

§ Quando criança, eu era uma espécie de Google da NASA. Sabia tudo sobre a corrida espacial, a Apollo 11, Armstrong, Aldrin, Collins e até sobre engenharia aeronáutica. Tinha absoluta certeza de que, quando adulto, seria astronauta. Hoje, muitos lustros depois, assisto ao documentário Apollo 13: Survival. Nem todos sabem, mas a nave sofreu uma grave pane a centenas de milhares de quilômetros da Terra, obrigando a tripulação a dar meia-volta na Lua e retornar, espremida no módulo lunar. Por muito pouco, o oxigênio e a água não se esgotaram. Para os negacionistas, essa viagem nunca aconteceu. Para mim, no entanto, foi a maior operação de resgate já realizada pelo homem. Claro que me emocionei ao reviver o drama. No entanto, fiquei aliviado de não ter seguido a carreira de astronauta — ainda mais depois de ver Marcos Pontes como ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações.

*Publicado em O Dia

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