6:46LUIS GERALDO MAZZA, ADEUS

O jornalista Luiz Geraldo Mazza morreu nesta madrugada. O jornalista Luiz Geraldo Mazza nunca vai morrer. Ao entrar para a Academia Paranaense de Letras, em 1998, um pequeno resumo da sua história foi contada. É o que segue abaixo nesta hora onde fica difícil expressar a dimensão do mestre. Ao signatário fica a lembrança de um momento entre tantos encontros em redações. Ele estava no ar na rádio CBN, esperando a deixa para comentar o assunto da hora (e ele comentava bem qualquer assunto). Entrei e, como tinha prometido numa festa de aniversário dele, entreguei um presente que achei num antiquário: um radinho de pilha da marca Zenith, com capinha de couro, fabricado nos anos 50, ou seja, década em que nasci e ele se formou em Direito. Falei no seu ouvido: “E funciona! Mas tem que ouvir todo dia porque em breve as rádios AM vão desaparecer”. Ele riu e, tempos depois, em outro encontro, disse que tinha escutado muita coisa boa naquela caixinha pequena. As rádios AMs realmente se foram, mas o Mazza não, porque ele deixou seu legado para quem o leu e ouviu sempre. Amém.

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Nascido em Paranaguá, em 10 de fevereiro de 1931, des­locou-se para Curitiba em 1939, onde o aguardavam as escolas básicas de formação, Tiradentes, Prieto Martinez e o Ginásio Paranaense. Formado em Direito pela UFPR, em 1954, de sua turma constam os também acadêmicos Edil­berto Trevisan, Léo de Almeida Neves, Leopoldo Scherner e Túlio Vargas. É essencialmente jornalista. Fez carreira no Diário do Paraná e na Última Hora. Exerceu as funções de chefe de reportagem, chefe de redação e editor de opinião. Estilo objetivo e equi­librado, aliou estas características para percorrer outras redações, as do Correio de Notícias, Folha de Londrina, Indústria e Comércio e Folha de São Paulo. Dirigiu tam­bém, por dez anos, o telejornalismo da TV Paranaense Canal 12. Como colaborador, participou dos jornais Diário da Tarde, de Curitiba, Diário do Comércio, de Paranaguá, e de inúmeras revistas regionais.

Mazza é do tempo em que no colégio e nos bares se trocavam poemas e contos, aná­lises e críticas; em que valiam o vigor de Castro Alves e a irascibilidade de Augusto dos Anjos, aliados à candura de Casemiro e à tristeza de Álvares de Azevedo. Essas experi­ências representavam uma certa celeridade diante de perspectivas futuras. Costuma­vam formar personalidades e acentuar conhecimentos. Era o costume cultivado com sabores de vida que significam fundamentos e estímulos de valor incalculável.

Essa circunstância ficaria expressa na Revista da Faculdade de Direito, editada então, e nos conteúdos de divagações sobre o cotidiano das crônicas que Mazza publicou em O Estado do Paraná, enlevado, na época, mais pelo lado poético das coisas e menos pelo lado crítico. Hoje, no dia-a-dia de sua atividade, centraliza suas preocupações na análise política e de comportamento, empenhando-se na valorização do Paraná, na luta contra a cumplicidade dos meios de comunicação com os poderes em geral e, especialmente, na crítica à escassez de representatividade do Estado nas mais variadas áreas. Publicou, ao longo de mais de 60 anos de carreira, milhares de artigos de jornal, tornando-se o mais profícuo jornalista paranaense de todos os tempos. Há muitos anos mantém coluna na Folha de Londrina. É, também, comentarista diário do progra­ma CBN Curitiba. Em fevereiro de 2011 um grupo de jornalistas organizou uma festa na Sociedade Garibaldi, em Curitiba, para comemorar seus 80 anos, na qual estiveram presentes centenas de amigos, familiares e admiradores.

Foi recebido na Academia em 1998, em cerimônia no Centro de Convenções de Curiti­ba, antigo Cine Vitória, pelo acadêmico Lauro Grein Filho. (VHJ)

2 ideias sobre “LUIS GERALDO MAZZA, ADEUS

  1. Birn Neto

    Esse momento nos faz lembrar do poema Meditações de John Donne, inspirador de Ernest Hemingway no seu livro “Por quem os sinos dobram” (que virou filme). Ao ouvirmos o repicar choroso dos sinos da igreja avisando sobre a partida de alguém, não devemos perguntar por quem eles dobram, choram. O repicar choroso não é por quem partiu. Os sinos dobram, choram, por todos nós que aqui ficamos: porque quando alguém como o Mazza parte, nós ficamos menores, Curitiba fica menor, o mundo fica menor. Obrigado, Mazza!

  2. luiza f. nascimento

    Mazza não morre jamais. Mazza é eterno.
    Pilar da imprensa por décadas. Cirúrgico, sem ser ofensivo. Direto, sem ser grosseiro.
    Conhecia como poucos os fatos e atos no exercício do poder no Paraná.
    Merece todas as homenagens.

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