por Carlos Castelo
Imagine um futuro em que as vacas fazem fila nos bancos para pagar seus impostos. “Dona Mimosa, por favor, apresente sua carteira de identidade e o comprovante de residência do estábulo,” orienta a caixa, digitando bovinamente no computador. Pois é, isso logo será a nova realidade dinamarquesa, onde as flatulências dos animais passaram de inconveniente rural à taxação federal.
Os rebanhos escandinavos, sem dúvida, devem estar em polvorosa. Calcule se fossem falantes, como os personagens do livro “Revolução dos bichos”. Sem dúvida, um porco, representante dos animais de fazenda, estaria resmungando:
“Primeiro nos fizeram produzir mais carne, e agora querem controlar o que comemos e soltamos no ar?”
Sim, bacorinho, chegou a era do imposto sobre as ventosidades. Nada mais justo, afinal, suínos, bovinos e ovinos não podem sair por aí emitindo metano como se estivessem numa queima de fogos na virada do ano em Copacabana.
Nessa nova Dinamarca eco-friendly, até o mais rosado dos porquinhos será cobrado pelos sua falta de modos. Pensem só no terror dos fazendeiros ao contabilizar as finanças no final do mês: “Milho, ração, frutas, legumes e… 40 euros pelos arrotos do Rabicó!”
A situação fica ainda mais curiosa quando se pensa no aumento progressivo da taxa. Se hoje é 40 euros por cada animal, em 2035 o valor subirá para 100 euros. É quase como se o governo estivesse dizendo: “Se não conseguimos lhes convencer a reduzir a emissão de gases agora, vamos fazê-los pagar tanto que vão acabar tendo que arrolhar seus animais.”
Os pobres fazendeiros da Dinamarca de amanhã talvez até passem a oferecer cursos de etiqueta para as criações. “Branquinha, querida, lembre-se de mastigar 32 vezes antes de engolir, senão a coisa vai feder pra gente.”
As grandes empresas de suplementos alimentares, é claro, já sentiram o fedor do dinheiro com a nova onda. Logo promoverão rações nas feiras agropecuárias com a promessa: “Zero gases, zero taxas!” E os anúncios serão completamente inusitados: “Cansado de pagar caro pelos traques de seu boi? Experimente nosso suplemento antigás “No-Paid” e economize já.”
A internet também ficará lotada de vídeos com gastroeconomistas ensinando como administrar o campo da nova era. Já dá até para ver o nome dos canais: “Fatos e Flatos”, “Ecoflatos no Ar”, “Agro Sem Pum”.
E os políticos? Bem, parlamentar, como todos sabem, consegue lucrar até com vento. Certamente, se tornarão os heróis que salvaram o planeta Terra, enquanto observam os cofres se enchendo com o dinheiro do recente imposto-pum.
Essa, nem “Revolução dos Bichos”, previu: uma batalha fiscal intestina cujo centro é o intestino dos rebanhos. Chupa, George Orwell!
(Publicado no Estadão)