por Luis Curro, na FSP
Ídolo em seu país, atacante acerta com time da 4ª divisão para ter mais minutos em campo e quebrar longo jejum de gols
“Japonês Kazu aproxima-se de feito de lenda inglesa ao renovar contrato aos 49 anos.”
Esse é o título que produzi para o blog quase sete anos e meio atrás. O texto versava sobre o atacante japonês Kazuyoshi Miura, o Kazu, que teve passagem por clubes brasileiros como Santos, Palmeiras e Coritiba, na década de 1980.
Ao continuar na ativa, ele se aproximava de Stanley Matthews, um dos melhores jogadores da história do English Team, que jogou até os 50 anos.
Pois Kazu não só ultrapassou Matthews como o deixou para trás por mais de meia dúzia de anos.
Quando escrevi sobre Kazu no começo de 2017, já era meio uma aberração um jogador continuar a atuar profissionalmente perto de se tornar um cinquentão. Pois a ampla maioria, quando muito, estica a carreira até perto dos 40.
Em meados de 2024, parece inacreditável que ele ainda continue na ativa, e sem data prevista para parar de jogar. Tem contrato até o fim de janeiro de 2025 com o Yokohama FC, que disputa a segunda divisão no Japão.
É considerado o mais velho atleta em atividade na cena futebolística mundial.
O vínculo do atacante, nascido em Shizuoka e respeitosamente chamado em seu país de King Kazu (Rei Kazu), com o Yokohama FC vem desde 2005.
Antes, e na fase pós-Brasil, defendeu Verdy Kawasaki, Genoa, Dinamo de Zagreb e Vissel Kobe. Também atuou pela seleção do Japão 89 vezes, de 1990 a 2000, marcando 55 gols.
Com o avanço da idade, Kazu naturalmente foi perdendo espaço no Yokohama FC, que no ano retrasado o emprestou ao Suzuka Point Getters (atualmente Atletico Suzuka), da quarta divisão.
A passagem pelo Suzuka marcou as duas últimas vezes em que o jogador balançou as redes. Um gol de pênalti, no dia 30 de outubro, e um de cabeça, no dia 12 de novembro de 2022.
Em 2023, novo empréstimo, dessa vez para atuar no futebol português. Contudo no Oliveirense, da segunda divisão lusitana, Kazu quase não jogou em uma temporada e meia.
Não começou uma única partida do clube da cidade de Oliveira de Azaméis (norte de Portugal), atuando somente nove vezes, em um total de 94 minutos –ou pouco mais que o tempo regulamentar de um jogo de futebol.
Agora, em seu retorno ao Japão, Kazu negociou com o Yokohama a fim de voltar a jogar, em novo contrato de empréstimo, pela equipe de Suzuka.
Segundo ele, em seu 39º ano como profissional, para conseguir mais minutos em campo. Acredita ainda ter condição física para render e amor pelo esporte para não pendurar as chuteiras.
“Na situação em que me encontro agora, parar não é uma opção”, disse a jornalistas. “Pensei onde e como poderia expressar minha paixão [pelo futebol] e decidi que o Atletico Suzuka seria o melhor lugar para fazê-lo.”
“A coisa mais importante que considerei ao decidir sobre a mudança foi quanto tempo de jogo eu poderia conseguir. Suzuka era a melhor opção para poder fazer isso. Acho que esse foi o fator decisivo.”
“Tenho 57 anos. Em comparação com outros jogadores, sou claramente mais velho. Muitas vezes me dizem para jogar nos [times de] veteranos, mas, independentemente da minha idade, não quero jogar como um veterano.”
Lembro-me, à época de Brasil, que Kazu não era muito habilidoso, mas corria adoidado.
Jogava sorrindo e fazia seus gols. O que me marcou foi um em 1988, pelo XV de Jaú, contra o Corinthians, de cabeça, em um sábado à tarde no interior paulista, vazando o goleiro Ronaldo Giovanelli.
Com velocidade e empenho, virou um ícone em um país que considerava os japoneses pernas de pau. Talvez ainda considere, já que até hoje é difícil ver um japonês atuando por aqui.
Sucesso nesta nova etapa ao “interminável” ídolo japonês. Na sua perseverança, que consiga voltar a balançar as redes depois de um longo período.
Pois Rei Kazu está na história. Pela sua longevidade e, sim, por ter sido bom de bola.