por Marina Izidro, na FSP
Para os anfitriões, torneio é ensaio para Copa do Mundo de 2026
Estou a 11 mil metros de altitude —quando olho o mapa, em cima da Groenlândia, para ser mais precisa.
Começo a escrever esta coluna no voo entre Londres e Los Angeles, a caminho da cobertura da Copa América.
Ao chegar, 11 horas depois e ainda atordoada pela diferença de oito horas de fuso, tento achar alguma referência ao torneio na cidade. Não há nada no aeroporto ou nas ruas, nem um cartaz que seja. A recepcionista do meu hotel se anima quando digo que estou aqui para cobrir o campeonato de “soccer.” Mas, quando pergunto se as pessoas estão empolgadas com a competição, ela sorri e diz: “Ah, aqui a gente acompanha mais a NFL, né… O nosso ‘football’. Mas, ontem, matriculei minha filha na escolinha de futebol!”
No dia seguinte, circulei um pouco pela cidade e também não vi nada promovendo a Copa América, nem um outdoor ao longo das muitas avenidas. Acho até compreensível –Los Angeles é enorme, cosmopolita, um lugar onde outras modalidades são muito mais populares.
Ligo a televisão à noite e a diversidade de canais dedicados ao esporte impressiona. Na NBC, a seletiva da equipe americana de natação para os Jogos de Paris passava ao vivo, em horário nobre, com repórter e comentarista à beira da piscina entrevistando atletas como Katie Ledecky, sete medalhas de ouro olímpicas. A ESPN mostrava a WNBA, liga de basquete feminino. Trocando de canais, vi NFL, X-Games… e até um campeonato de vôlei de praia universitário era exibido na televisão.
Só que, no futebol, a poderosa seleção feminina, tetracampeã mundial, passa por uma entressafra e caiu de 1º para 5º lugar no ranking da Fifa depois do péssimo desempenho na Copa do Mundo no ano passado, eliminada nas oitavas de final.
A masculina é a 11ª do planeta, não tem nenhum título relevante e a melhor colocação em uma Copa do Mundo foi um terceiro lugar –em 1930.
Por isso, a federação de futebol dos Estados Unidos sabe que precisa aproveitar os grandes eventos que o país vai receber nos próximos anos. Além da Copa América, que vai até 14 de julho, sediará um Mundial de Clubes com 32 equipes, em 2025; a Copa do Mundo, em 2026, com México e Canadá; os Jogos Olímpicos, em Los Angeles, em 2028.
São oportunidades para atrair receitas e patrocínio. E, claro, esses megaeventos deixam o mercado norte-americano ainda mais atraente para investidores. Ter rostos como Lionel Messi e David Beckham promovendo o esporte e a MLS –liga profissional masculina– ajuda, e muito.
A Copa América já é um ensaio para o Mundial. É disputada em 14 estádios espalhados pelo país, a maioria com capacidade acima de 60 mil lugares. A arena onde o Brasil estreia contra a Costa Rica será o local da primeira partida dos Estados Unidos na Copa de 2026 e da cerimônia de abertura olímpica em 2028.
O torneio também deve ajudar a definir, junto com a Eurocopa, quem tem mais chances de levar o prêmio de melhor jogador do mundo –Vinicius Júnior é o candidato do momento.
A Argentina é vista como favorita ao título, e logo depois vem o Brasil. Estou curiosa para ver a recepção da torcida e acho que, nesse sentido, a Copa América pode ser um termômetro do que esperar nos próximos anos. A partida de estreia, a vitória da Argentina sobre o Canadá por 2 a 0, teve mais de 70 mil espectadores em Atlanta.
Eu nunca duvido dos americanos. Eles amam e investem no esporte e, além disso, sabem como poucos como transformá-lo em um belo entretenimento.