8:29Acostumados e acomodados

por Tostão

…Além da tragédia do Rio Grande do Sul, convivemos diariamente no futebol e no país com problemas permanentes, algumas tragédias, que assolam o Brasil. Fala-se muito sobre o assunto e muito pouco se faz para resolvê-los. Passam a ser curiosidades e até atrações turísticas.

Acostumamo-nos e nos acomodamos a problemas frequentes, crônicos no futebol, e nada é mudado: como o péssimo calendário, os gramados ruins, o excesso de faltas, o tumulto durante as partidas, os muitos erros dos árbitros, a demora do VAR para tomar decisões, o comportamento raivoso de alguns treinadores durante os jogos. Discute-se muito sobre tudo isso e nada é mudado. A tão esperada liga dos clubes nunca chega.

Acostumamo-nos e nos acomodamos à miséria e à desigualdade social, com o vergonhoso número de residências sem saneamento básico e sem água potável. Fala-se muito sobre isso, mas os progressos são muito pequenos. Há dinheiro para outras coisas, como para as enormes emendas parlamentares, mas não há para resolver a falta de esgoto.

Acostumamo-nos e nos acomodamos a algumas ultrapassadas maneiras de jogar que ainda existem no futebol brasileiro. O fantasma do 7 x 1 completará dez anos em 8 de julho e ainda continua vivo. Repito, não foi por acaso. Enquanto o Brasil enchia o ataque de jogadores, deixando um enorme vazio no meio campo, os alemães colocaram mais meio-campistas para ter o domínio da bola, do jogo, envolver o time brasileiro com troca de passes e fazer os sete gols. Continuamos desvalorizando o meio campo.

Acostumamo-nos e nos acomodamos à absurda violência, que aumenta a cada dia. As milícias e o crime organizado que dominam o Rio de Janeiro se espalharam pelo Brasil. Ainda não vi um forte planejamento para diminuir o problema.

Acostumamo-nos e nos acomodamos às mentiras. Todos criticam as redes sociais e quase todos as procuram. Para muitos é a única fonte de informação. As redes sociais passaram a ser formadoras de opiniões.

Acostumamo-nos e nos acomodamos à medíocre e ultrapassada discussão sobre o que é mais importante, o resultado ou a qualidade e a beleza do jogo. O Manchester City, dirigido por Guardiola, melhor técnico do mundo, joga bem, bonito e quase sempre vence.

Guardiola é bastante pragmático e acredita que para vencer é preciso ter a bola, o domínio do jogo, trocar muitos passes e esperar o momento de envolver o adversário e fazer o gol.

Precisamos nos desacomodar e nos desacostumar às palavras e às ações que se repetem. Necessitamos ser mais criativos, solidários, sem perder a disciplina, a estratégia e o planejamento.

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