por Célio Heitor Guimarães
Já lhes falei, aqui neste espaço, de Zeila Ribas Vianna. É uma escritora. Mais do que isso: uma excelente escritora, da escola de Érico Veríssimo. Descobri-a com algum atraso, em 2017, com Sempre… o mesmo vento”, edição de 2014.
Começa assim: “Na campina batida pelo vento, faltava pouco para o dia despontar. O frio era intenso e na madrugada, campo e céu se fundiam no horizonte a perder de vista. Sob a luz difusa, a vasta imensidão da paisagem tinha uma mesma tonalidade opalescente e os contornos mal definidos causavam uma sensação de irrealidade. Apenas as manchas escuras dos capões nas baixadas e as sombras vagas dos altos itaimbés podiam ser percebidas, indicando o rumo ao viajante solitário que avançava penosamente contra o vento”.
Apaixonei-me desde a primeira frase. Érico puro, como disse. Com uma vantagem sobre o autor gaúcho: o cenário é o Paraná, os Campos Gerais do Paraná.
Nesse cenário do século XIX, dominado pelo vento, sempre o mesmo vento, Zeila Ribas Vianna narra a saga de sua família, nascida da união dos Teixeira de Azevedo com os Gonçalves Guimarães. E ao contá-la, utilizando-se da forma “quase romance”, isto é, fatos e personagens reais romanceados, conta a história do Paraná, de pioneiros de visão e coragem, tropeiros e sertanistas que fizeram o caminho caminhando e semearam a civilização paranaense com muito suor, sangue e idealismo.
O estilo de Zeila é leve, solto e envolvente. O mesmo que utilizou, depois, em “Um lugar para voltar”, lançado em 2023, obra de ficção e personagens fictícios – como adverte a autora – mas com fatos que realmente aconteceram, abrangendo a cidade de Areal de Prata, que “pode ser qualquer pequena cidade dos campos meridionais do Brasil”. A história é toda contada pelos próprios personagens, “mulheres e homens ligados por laços de amor, sangue e amizade”, dos quais o leitor se aproxima e participa de suas experiências.
Agora, Zeila Ribas Vianna decidiu ultrapassar os campos gerais do Paraná e o próprio Brasil: no próximo sábado, 1º de junho, a partir das 17 horas, ela estará lançando, em Lisboa (Samambaia – Bar da Voz do Operário), a edição portuguesa de “Sempre o mesmo vento”, sob os auspícios da Editora Kotter.
O sucesso é certo, não apenas entre os brasileiros lá residentes, mas também dos lusitanos, tradicionalmente amantes de uma boa leitura. A lamentar, apenas, a ilustração da capa, que, embora bonita, não tem nada a ver com os campos gerais do Paraná. Espero que não tenham alterado o conteúdo.
Parabéns, Zeila. A cultura paranaense lhe agradece, à espera de novos títulos.