por Renato Terra
Não é hora de apostar em debates públicos reais e efetivos
Não é hora de apontar culpados para a tragédia do Rio Grande do Sul.
Não é hora de ouvir os cientistas. Não é hora de debater ciência na TV, nos jornais e nas redes sociais. Não é hora de conscientizar a população sobre as consequências das mudanças climáticas. Não é hora de pressionar por políticas públicas que tenham impacto radical no planeta. Não é hora de tratar o tema com a urgência e a amplitude que ele merece.
Não é hora de relacionar as chuvas recorrentes no sul do Brasil aos recordes de sensação térmica acima dos 60 graus no Rio de Janeiro. Ou às enchentes no Afeganistão. Ou às seguidas ondas de calor na Europa.
Não é hora de pressionar Arthur Lira e Rodrigo Pacheco a reverem as pautas devastadoras para o meio ambiente.
Não é hora de entender onde Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul desde 2019, errou. E não é hora de cobrar por mudanças de postura nesses erros. Não é hora de cobrar os prefeitos.
Não é hora de pressionar o presidente Lula a situar, de fato, a preservação da Amazônia no centro do seu governo. Não é hora de criar políticas federais que apostem em novas matrizes energéticas e que financiem a troca da ocupação dos solos por práticas mais saudáveis (e mais rentáveis) que a criação de gado e a monocultura de soja.
Não é hora de falar em agrofloresta.
Não é hora de ouvir Marina Silva.
Não é hora de as empresas de mídia se interessarem por pautas e pessoas que estão trazendo ações efetivas para reduzir o efeito das mudanças climáticas.
Não é hora de começar a usar o termo “refugiados climáticos” para aqueles que precisam se mudar por causa de eventos extremos.
Não é hora de criar políticas públicas que responsabilizem rapidamente os criadores de fake news. Não é hora de superar as discussões polarizadas e empobrecedoras que as fake news propõem.
Não é hora de regulamentar as redes sociais para que a internet deixe de ser uma terra sem lei. Não é hora de questionar por que Meta, X, Apple, Microsoft, TikTok não precisam ter as mesmas responsabilidades legais que as emissoras de TV, jornais e veículos de mídia.
Não é hora de politizar, de fato, a política. Não é hora de romper o devaneio comunista-gayzista-maconhista para focar em discussões práticas e efetivas de políticas públicas reais.
*Publicado na Folha de S.Paulo